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HUMANO-PÓS-HUMANO: FLAGELOS E PERSPECTIVAS DE UM SER EM METAMORFOSE
Por Alexandre Quaresma*
Vivemos um momento ímpar de deslumbramento e
incerteza. Deslumbramento diante das possibilidades
bionanotecnocientíficas que se abrem diante de nós, e incerteza quanto
ao potencial ambíguo dessas mesmas possibilidades.
Introdução
O objetivo primeiro deste artigo é ajudar a fomentar o debate sobre o instigante e notável tema hora em tela (pós-humano), juntamente com suas indissolúveis implicações socioculturais, no sentido de propor uma reflexão mais aprofundada acerca da matéria, bem como trazer à baila as perpectivas e inquietações que surgem toda vez que o termo pós-humano é pronunciado como vetor de novas significações para os acontecimentos da pós-modernidade. Nesse sentido, não desejo apresentar verdades absolutas sobre o assunto analisado, mas sim ampliar os horizontes de debate, especialmente no que tange nossa essência humana que, junto a esses mesmos fenômenos, poderia encontrar-se ameaçada. Por fim e em última análise, trata-se pura e simplesmente de tentarmos responder à importantíssima e mais seminal pergunta que sempre nos acompanhou desde que existimos: Quem somos nós?
1. Deslumbramento, incerteza e responsabilidade
Vivemos um momento ímpar de deslumbramento e incerteza. Deslumbramento diante das possibilidades bionanotecnocientíficas que se abrem diante de nós, e incerteza quanto ao potencial ambíguo dessas mesmas possibilidades. Esse exacerbado desenvolvimento se dá como continuidade de um longuíssimo processo de domínio, subjugação e exploração do mundo e da natureza à nossa volta, culminando hoje com o determinismo tecnológico que pode ser identificado em tudo que realizamos no mundo desde a aurora imemorial dos tempos na Terra.
Recursivamente, perpetuamos através dos tempos uma dinâmica singular de extrema complexidade: criamos a cultura que nos cria, cultura essa que criamos ao sermos criados por ela, continuamente. Até aí, seria óbvio. Todavia essa dinâmica intensifica-se de modo exponencial nos últimos duzentos, e mais especificamente nos últimos cinquenta anos. Esse processo sociocultural torna-se relevante justamente quando essa velocidade fenomenal ultrapassa nossa capacidade de refletir sobre esse mesmo e recursivo imprinting tecnicista que determina não só a cultura, mas também o modo de enxergarmos e pensarmos o mundo; ou, devido à dispendiosa e célere ascensão de tais práticas, o modo de não conseguirmos fazê-lo.
De fato, e isto é notório e sabido, essa dinâmica de extrema importância para a consubstancialização da cultura foge totalmente de nosso controle. Alguns – e eu não me deterei em enumerar as suas possíveis motivações – acreditam que controlar ou influenciar essa dinâmica não nos compete, pois creem em uma espécie improvável de intenção ‘consciente’ que poderia estar por trás de tais fenômenos. Outros, bastante envolvidos no próprio fomento prático desses mesmos fenômenos e viciados nessas relações, pregam uma espécie igualmente improvável de legalidade moral fundamentadora, no mínimo questionável, na qual – em tese – o próprio fenômeno do avanço e do desenvolvimento seria responsável por tudo de valoroso, valioso e desejável em termos de progresso para a humanidade, reclamando para sua causa o controle da ‘locomotiva’ da história, tornando-se assim alvo e objetivo de toda a civilização moderna e pós-moderna. Aqui há uma armadilha significativamente perigosa: ambas as concepções apresentadas pretendem uma ingerência descabida, especialmente se considerarmos nossa ampla parcela de responsabilidade. Além disso, trazem um distanciamento e descomprometimento ético irreal e improcedente com a contrução da realidade, juntamente a um olhar equivocado e prepotente de assenhoramento, próprio do controle que sempre – mesmo diante da vida – vê e concebe tudo como ‘coisa’.
Hans Jonas é claro quanto a isto em seu livro O princípio responsabilidade – Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica:
Creio que certas transformações em nossas capacidades acarretaram uma mudança na natureza do agir humano. E, já que a ética tem a ver com o agir, a consequência lógica disso é que a natureza modificada do agir humano também impõe uma modificação na ética (JONAS 2006:29).
A natureza como uma responsabilidade humana é seguramente um novum sobre o qual uma nova teoria ética deve ser pensada (JONAS 2006:39).
Questões que nunca foram antes objeto de legislação ingressam no circuito das leis que a ‘cidade’ global tem de formular, para que possa existir um mundo para as próximas gerações de homens (JONAS 2006:44).
De certo que as antigas prescrições da ética ‘do próximo’ – as prescrições da justiça, da misericórdia, da honradez etc. – ainda são válidas, em sua imediaticidade íntima, para a esfera mais próxima, cotidiana, da interação humana. Mas essa esfera torna-se ensombrecida pelo crescente domínio do fazer coletivo, no qual ator, ação e efeito não são mais os mesmos da esfera próxima. Isso impõe à ética, pela enormidade de suas forças, uma nova dimensão, nunca antes sonhada, de responsabilidade (JONAS 2006:39).
Essa forma mais responsável, por assim dizer, de conceber o mundo à nossa volta e estabelecer relações com ele, que esse filósofo alemão nos propõe, traz uma intimidade com o fato em si (pós-humano) muito mais legítima, tendo em vista que tal fenômeno não se consolida aleatoriamente por si, mas depende, em última análise, de nossa participação direta – mesmo que involuntária e inconsciente – para poder vir às vias de fato e acontecer no mundo do real, o que por sua própria força configura nosso vínculo sólido de responsabilidade para com o fenômeno.
Assim – mesmo que à primeira vista imaginemo-nos inaptos, impotentes e até mesmo desvinculados no que tange influenciar tais acontecimentos; seja pela velocidade que estes acontecimentos venham a apresentar ou seja pela complexidade que realmente tenham por ultrapassarem as gerações, suplantando as perspectivas temporais individuais através da própria história –, podemos então postular: não é possível esquivarmo-nos de nossa participação direta e responsável em tais processos e fenômenos que dizem tanto a respeito de nós mesmos.
Jürgen Habermas em seu livro O futuro da natureza humana é convergente:
Tememos, não sem razão, que surja uma densa corrente de ações entre as gerações, pela qual ninguém poderá ser responsabilizado, já que ela transpassa de forma unilateral e na direção vertical as redes de interação contemporâneas (HABERMAS 2007:02).
Nesse sentido, enquanto escrevo este artigo, e enquanto você, prezado leitor e internauta, o lê, tal dinâmica tecnicista determinante desse imprinting segue sempre adiante, independentemente de nossa capacidade prática de refletir sobre ela, e os conflitos assim não tardam em aparecer. O primeiro deles, sem dúvida, é o descontrole do controle.
2. Um controle descontrolado
Hoje vivemos uma profunda angústia que tem sua origem no descontrole do controle tecnicista, controle esse perpetuado por nossa civilização e que agora nos ameaça cruzando todas as barreiras sólidas e até então estabelecidas no que diz respeito à nossa própria humanidade. E, esse sentimento desconfortável e perturbador é bastante bem fundado tendo sua origem em nossas próprias ações no mundo a nosso redor. Estamos num tempo singular chamado pós-modernidade, e esse nos apresenta agora impositivamente seu filho mais pródigo, fecundo e viril: o pós-humano. O pós-humano filho do humano nasce da impotência que experimentamos ao nos confrontarmos com nossas próprias e desmedidas capacidades bionanotecnocientíficas de realização, potencializadas. De fato, somos capazes de replicar animais, modificar a vida no nível biomolecular através das nanotecnociências e do ‘bioengenheiramento’, transformá-la, reconfigurá-la, misturá-la e até mesmo fundi-la a outras formas vivas, mas não somos ainda capazes de mensurar os possíveis impactos que isso gerará em nossa cultura e em nossa própria espécie. Novas tecnologias moderníssimas como a clonagem, a transgenia, as nanotecnologias, a genômica entre muitas outras, surgem ininterruptamente, mas velhos problemas sociais como a fome e a miséria continuam a nos atormentar desafiando nossa capacidade bioética, política e criativa. Todavia, não nos iludamos: todos esses avanços tecnocientíficos estão atrelados indissoluvelmente ao capital financeiro internacional que é necessário para seu fomento e desenvolvimento, e por isso muitas outras ações importantes como combate à desigualdade social, por exemplo, são deixadas de lado, pois o capital financeiro só se ocupa de si, sua concentração, seu aumento e sua multiplicação. Ou seja, além da dinâmica célere e aparentemente descontrolada que opera tais mudanças, existe ainda um certo interesse por parte destes mesmos grupos elitistas que fomentam tais avanços para que todo o processo siga sempre assim descontrolado, tentando tornar qualquer especulação a respeito de riscos e impactos negativos em meras projeções de lunáticos e paranoicos tecnofóbicos e inconsequentes. Ou seja, desimportantes.
Assim sendo, e independentemente de uma pretensa crítica social, é facílimo sentirmos a manifestação desse sentimento de angústia como algo pertinente, e pressentirmos a presença de uma série de conflitos e crises bioéticos que vão se acumulando em nossos horizontes futuros, cujo enfrentamento somos desafiados a assumir sob pena de por a perder a própria aventura humana na Terra, inviabilizando nossa permanência enquanto espécie, destruindo o meio ambiente e suprimindo, além disso, as possibilidades e oportunidades potenciais das futuras gerações.
Neste contexto, o fenômeno pós-humano surge como signo indicativo de transformação a partir da soma e convergência de diversos fatores socioculturais distintos e confluentes dentro de um mesmo momentuum, e assume relevância especial para nossa análise reflexiva neste artigo, pois é algo que se dá na prática involuntária e independentemente de nossa vontade e consciência objetiva, fugindo assim, talvez irreversivelmente, de nosso controle como fenômeno intersubjetivo e difuso. Um destes fatores mais eminentes na atualidade é a possibilidade bastante concreta de nos degenerarmos enquanto espécie distinta das demais, e a possibilidade no mínimo aterradora de nos fundirmos às nossas próprias criações: as máquinas. Seríamos então simbiontes: meio-maquínicos-meio-orgânicos.
Quanto a isto, Joël de Rosnay, em seu livro O homem simbiótico – Perspectivas para o terceiro milênio, informa-nos o seguinte:
...o simbiotente e sua vida trepidante podem aparecer como uma excrecência parasitária específica ao mundo industrializado, uma espécie de câncer das sociedades desenvolvidas, drenando em seu proveito fluxos cada vez mais densos de energia, informação e materiais (ROSNAY, 1997:22).
Certo, esta fusão com as máquinas já está acontecendo pois somos dependentes e mediados por elas em quase tudo que fazemos em nossas vidas cotidianas, e atualmente não conseguimos nos relacionar com a realidade senão através delas. Todavia, a intrusividade de próteses mecânicas e informacionais, ou seja, a incorporação indiscriminada dessas próteses no organismo – considerando incorporação como tornar normal e aceito incluir no corpo tais suplementos artificiais – já é uma realidade e aponta para uma exponencialização tão fenomenal, que ameaça abalar as estruturas de nosso pensamento habitual a respeito do que significa ser humano.
Eis aqui, coloquialmente, o “x” da questão: o humano está em metamorfose. Os parâmetros e as contingências que garantiam essas certezas ontogênicas, antes tão sólidas e estáveis, estão se rompendo. Não é mais possível dizer com precisão se é natural ou não clonar células e ‘fabricar’ biomolecularmente órgãos suplementares, se já cultivamos órgãos em cavidades toráxicas de porcos e vacas para, posteriormente, reintroduzi-los em corpos humanos, e ainda se todo esse processo poderia ser considerado humano ou não. Da mesma maneira, não sabemos mais diferenciar nossos olhos de nossas lentes de contacto ou óculos, pois já os incorporamos à nossa fisiologia e à nossa cultura como algo natural, e, em breve possivelmente, não reconheceremos mais a diferença entre nossos cérebros e nossas máquinas computadoras hiperinteligentes conectados a eles.
3. O humano-pós-humano
O pós-humano é ainda, em diversos sentidos, também humano. Mesmo que transformado em outro tipo de entidade cujas influências externas sobrepugem e transcendam os parâmetros que culturalmente foram estabelecidos para determinar e conceber o humano. Além disso, nossa civilização pós-moderna – de um modo ou de outro – é diretamente responsável por essa desmedida potencialização dos dilemas e crises do humano. O desencantamento com o mundo e com a vida que experimentamos sob a força das bionanotecnociências, a desmitificação da natureza e até de Deus, a tecnicização, o determinismo tecnológico extremado são exemplos claros desse mal-estar e dessa inquietação angustiosa que nos deixa perplexos e nos impulsiona adiante, onde humano e não-humano se fundem e se confundem, e se constituem enquanto representação simbólica nova, já que o pós-humano é em todos os sentidos: inaugurador e neoparadigmático.
Francis Fukuyama em seu livro Nosso futuro pós-humano não tem dúvidas quanto à nossa argumentação e afirma:
Poderíamos assim emergir do outro lado de uma grande linha divisória entre história humana e pós-humana sem nem mesmo perceber que o divisor de águas fora rompido porque teríamos sido cegos ao que era essa essência (FUKUYAMA 2003:111).
Quanto à definição do termo pós-humano, enquanto vetor de novas significações das consequências da pós-modernidade, a professora Lucia Santaella, em seu livro Cultura e artes do pós-humano, cita Robert Pepperell (1995), elencando os três sentidos em que ele emprega a expressão pós-humano como referência:
…em primeiro lugar, para marcar o fim do período de desenvolvimento social conhecido como humanismo, de modo que pós-humano vem a significar ‘depois do humanismo’; em segundo lugar, a expressão sinaliza que nossa visão do que constitui o humano está passando por profundas transformações, o que significa sermos humanos hoje não é mais pensado da mesma maneira em que o era anteriormente; em terceiro lugar, ‘pós-humano’ refere-se a uma convergência geral dos organismos com as tecnologias até o ponto de tornarem-se indistinguíveis (SANTAELLA 2009:109-110).
4. A última tentação
A última tentação humana é o desejo incontrolável de superar a morte. Seja através de técnicas improváveis de suportes maquínicos, que em tese poderiam amparar nossa consciência num ambiente não-orgânico que certamente configura uma concepção obsolescente do corpo; seja preservando e adicionando a esse mesmo corpo todo tipo de drogas, acessórios, próteses, órgãos bioengenheirados, mecanismos e dispositivos artificiais de toda ordem, transformando o corpo humano numa plataforma viva a partir da qual se constituiriam outras formas de interface e consciência que, de certa maneira, também concebem o aparato orgânico humano como algo ‘incompleto’ e carente de ‘melhoramento’, e que também nos remetem a uma concepção de obsolescência do que consideramos humano.
Ser vivo é ter que morrer mais cedo ou mais tarde, pois dentro da natureza onde se desenrolam as delicadas e complexas coreografias da vida, tais fenômenos são imbricados e subsequentes dentro de uma ordem de complexidade que se retroalimenta contínua e sistemicamente. Assim, o ser humano-pós-humano perplexo diante de tamanha adversidade (a morte) passa a querer permanecer a todo o custo e por essa razão luta por postergar e, em seus desejos egoístas mais primordiais, não consegue se conformar à sua própria condição mortal, rebelando-se contra o próprio sistema natural que o gerou, subjugando cada vez mais esse mesmo sistema através da artificialidade tecnicista em busca se não de uma imortalidade, pelo menos de sua permanência estendida ao máximo possível. A própria técnica de clonagem animal – cuja motivação se esconde atrás de uma pretensa servilidade funcional reabilitativa, terapêutica e regenerativa futura, teoricamente benéfica em alguns sentidos restritos como produzir pele para vítimas de queimaduras, por exemplo – também disponibilizaria a clonagem como possibilidade técnica de indivíduos replicarem-se a si mesmos por desejos descontrolados de permanência e apego a essa existência singular, lançando um raio incidental de esperança na sombria senda de retorno irreversível ao Uno primordial que é a morte.
Talvez, nesse momento (2010), seja prematuro falar de imortalidade, é verdade, mas o prolongamento, quem sabe indeterminado da vida humana, já é uma possibilidade bastante plausível nos horizontes de nossa civilização tecnológia de controle e instrumentalização. Nesse sentido, o humano que sempre instrumentalizou tudo à sua volta, agora faz de si seu próprio objeto de manipulação, instrumentalização e controle.
Hans Jonas não deixa dúvidas quanto a isso: “O Homo faber aplica sua arte sobre si mesmo e se habilita a refabricar inventivamente o inventor e confeccionador e todo o resto” (JONAS 2006:57).
O Homo faber ergue-se diante do Homo sapiens (que se torna, por sua vez, instrumento daquele), e o poder externo aparece como o supremo bem – para a espécie, obviamente, não para os indivíduos (JONAS 2006:272).
O que Jonas quer nos dizer é que mesmo que tais práticas representem teórica e simbolicamente avanço tecnológico para a espécie, tais avanços – se é que poderíamos considerá-los avanços e não retrocessos – não chegariam a ser benéficos para a coletividade humana, servindo apenas como instrumento de uma minoria elitista e sofisticada que poderia surfar na crista da onda bionanotecnocientífias e pagar por suas benesses.
Aqui recaímos numa mesma armadilha da rasa lógica capitalista de mercado: tecnologias sempre vêm à luz amalgamadas a seus contextos e conjunturas culturais específicas. O que vale dizer que, por serem patrocionadas por grupos de elite (do ponto de vista da abastança material) representam, indubitavelmente, os interesses de seus fomentadores e investidores, até porque há que se ter muito dinheiro para fomentar tais P&Ds de altíssima complexidade e altíssimo custo financeiro.
5. Flagelos e perspectivas de um ser em metamorfose
Um notável flagelo autoimposto do humano-pós-humano a si mesmo é a perda de sua essência fundamental. Não numa concepção abstrata e representativa especular, mas sim no sentido da perda objetiva de caracteristicas tão determinantes como orgânico e inorgânico, por exemplo, de especificidades tão intrínsecas à nossa própria estrutura biológica e intelectiva que, ontologicamente, tornaríamo-nos outra espécie diferente da humana. O mesmo vale para o prolongamento indeterminado da vida humana numa medida muito significativamente maior. Num certo sentido, esse tipo de alteração na longevidade, muito exponencial e determinante, modifica drasticamente o acoplamento estrutural da espécie e sua própria autocompreensão. Além dos problemas práticos e óbvios que podemos de imediato imaginar, como imprevistos, acidentes e descontroles, podemos antever também possíveis estratificações sociais mais sectarizadas ainda do que são hoje, dando origem no topo da cadeia a uma raça diferente e mais ‘elevada’ de seres por assim dizer ‘melhorados e superiores’, ‘mais aptos’, em contraste gritante e absoluto com os ‘não-melhorados’, ‘inferiores’, ‘menos aptos’. Isso seria a replicação nefasta do modelo de categorização e discriminação social que já se manifesta através da classificação entre ricos e pobres, só que desta vez tais predicados e defeitos estariam mais intimamente associados às complexidades dos organismos individuais.
Jürgen Habermas corrobora tal compreensão e afirma que fazer da humanidade um meio, seja de transformação, ‘melhoramento’, desfiguração, exploração ou descaracterização implica, inevitavelmente, na quebra desta simetria e na morte da igualdade secular entre as pessoas. A ideia da humanidade, por si, obriga-nos – nos diz ele – a adotar aquela perspectiva do nós, a partir da qual nos consideramos uns aos outros como membros de uma comunidade inclusiva, que não exclui ninguém (HABERMAS 2004:78).
6. A consciência maquínica e o ciberespaço
Talvez a mais notável e fabulosa prótese pós-humana que se avizinha de nós em termos de possibilidades e realizações tecnocientíficas sejam os computadores – não inteligentes ainda, mas com capacidades espantosas de processamento de dados iguais ou superiores às do cérebro humano. Isso, em última análise, pode significar que, mesmo que não inteligentes num primeiro momento, esses aparatos artificiais poderão – pelo menos em tese – operar sistemas complexos de considerações e alternativas múltiplas, análogas às existentes em nossas próprias mentes, já que nossos computadores são concebidos e construídos à nossa imagem e semelhança. Aí, nesse momento, bastaria ligar essas supermáquinas à rede internacional de computadores, munindo-as de softwares, algoritmos evolucionários e redes neuronais complexíssimos, o que possibilitaria que elas aprendessem a aprender.
Um fator perturbador e agravante deste cenário hipotético futuro é a habilidade que as máquinas possuem de compartilhamento dos dados e informações a elas fornecidos. Num caso extremado como esse, surge a perturbadora questão: o que impedirá que as máquinas venham a nos superar em habilidades e dons, e ou mesmo se rebelar contra nós?
O ciberespaço, neste sentido, não seria apenas e tão somente uma espécie de hiperconsciência planetária, mas também um veículo extremamente eficiente que, em última análise, poderia servir a qualquer causa; inclusive – se fosse o caso – à das máquinas. Ou seja, além de nos mediar – orquestrar nossas finanças em nível global, entre outras atividades estratégicas, absorver, tratar e transportar nossas informações, e lembremos que informação é poder – ela (world wide web) se consolida como uma grande biblioteca viva da história e do conhecimento humano, disponível nessa grande consciência coletiva viajando à velocidade da luz.
Quanto a isso Joël de Rosnay é categórico:
Damos-lhe o nome de economias, mercados, rodovias, redes de comunicação ou estradas eletrônicas; no entanto, trata-se de órgãos e sistemas vitais de um superorganismo em vias de emergir. Irá modificar o futuro da humanidade e condicionar seu desenvolvimento no decorrer do próximo milênio (ROSNAY 1997:17).
Como enzimas de uma protocélula com as dimensões do planeta, trabalhamos sem plano de conjunto, sem intenção real, de maneira caótica, na construção de um edifício que nos supera (ROSNAY 1997:21)
Conclusão: Quem realmente somos nós?
Pergunta/problema final sobre nossa humanidade: Quem realmente somos nós? Somos tudo isso que criamos? Ou tudo isso que criamos transforma fundamentalmente o que somos?
Bem, a resposta exata parece inexistir. Talvez sejamos ambas as coisas ao mesmo tempo, e quem sabe até mais. Nossa metamorfose pode ter começado lá atrás quando nos despregamos do mundo natural comum dos demais animais vivos sob a força da pedra lascada e do domínio do fogo como as primeiras tecnologias de intrumentalização e controle primitivos; e daí para a frente teríamos seguido sempre adiante nesse progressivo processo, configurando-o como algo inerente à nossa própria natureza humana mais essencial, o que certamente justificaria toda essa violência e devastação que tanto primamos em desenvolver e melhorar em busca de nossa permanência e capacidade de prevalecer e sobressair.
Ou então, ao contrário, nessa mesma ocasião longínqua de nosso passado primitivo, teríamos nós – sem nem mesmo termos consciência disso – desviado-nos irreversivelmente de nossa essência e relação de pertencimento mais primordial com a natureza, provocando o acionamento de toda essa sequência de fatos, fenômenos e acontecimentos que culminam hoje nesses conflitos e crises bioéticos sem precedentes, que de fato abalam e podem até mesmo destruir nossa essência e nossa identidade, enquanto seguem igualmente também devastando e extinguindo as demais espécies vivas e o próprio ambiente que nos abriga a todos.
Nesse sentido, é inapropriado enxergar o fenômeno pós-humano como algo alheio a nós, mesmo que esse fenômeno se apresente exponencialmente livre de nossa vontade e reflexão intencionais. Prescrutá-lo em sua identidade neoparadigmática, verificar sua interface com a cultura que o gera, identificar seus possíveis pontos nodais significa, certo, debruçarmo-nos por sobre nossa própria essência enquanto humanidade.
Referências bibliográficas
FUKUYAMA, Francis (2003). Nosso Futuro Pós-humano – Consequências da revolução da biotecnologia. Rio de Janeiro: Rocco.
HABERMAS, Jürgen (2004). O Futuro da Natureza Humana. São Paulo: Martins Fontes.
JONAS, Hans (1979). O princípio responsabilidade – Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: PUC, 2006.
ROSNAY, JOËL DE (1997). O homem simbiótico – Perspectivas para o terceiro milênio. Petrópolis: Vozes, 1995.
SANTAELLA, Lucia (2003). Culturas e artes do pós-humano. São Paulo: Paulus, 2004.
*Alexandre Quaresma é paulistano, escritor, ambientalista e pesquisador de nanotecnologias e impactos sociais. Autor dos livros “Nanocaos e a Responsabilidade Global” e “Nanotecnologias: Zênite ou Nadir?”. Atualmente pesquisa sobre o fenômeno Pós-Humano e suas diversas facetas de interação dentro da sociedade e da cultura contemporâneas, tema central de sua nova publicação prevista para 2011. E-mail: a-quaresma@hotmail.com http://blog-do-escriba.blogspot.com/
Fonte: http://revistazcultural.pacc.ufrj.br/humano-pos-humano-flagelos-e-perspectivas-de-um-ser-em-metamorfose-de-alexandre-quaresma-2/
Acesso: 01 abr. 2018.
UNIVERSIDADES ESTADUAIS DO PARANÁ SUSPENDEM AULAS POR FALTA DE AUTORIZAÇÃO PARA CONTRATAR PROFESSORES
O governador do Paraná inimigo da Educação, Beto Richa (PSDB),
continua o desmonte das universidades públicas estaduais. Nesta semana a
Unicentro e a UEL anunciaram a suspensão dos seus calendários de aulas.
Richa não autorizou a contratação dos docentes necessários para o
funcionamento dos cursos.
A Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro) e a Universidade Estadual de Londrina (UEL) emitiram comunicados anunciando a suspensão dos respectivos calendários de aulas na graduação a partir de segunda-feira (19). O motivo é o mesmo, o governo estadual não autorizou a contratação de professores necessários para o mínimo funcionamento dos cursos superiores.
O ataque às instituições públicas de ensino é uma das propostas dos tucanos e do governo do ilegítimo Michel Temer (MDB) para a educação. Eles planejam sucatear ao máximo as universidades que são principais polos de produção de conhecimento do país; mas que também oferecem resistência às políticas neoliberais de entreguismo do patrimônio nacional e de exploração dos trabalhadores.
Em sintonia com o atual Ministério da “Educação”, os governos do PSDB visam estrangular financeiramente as instituições, para em seguida cobrar mensalidades e privatizar toda a rede.
O ataque às instituições públicas de ensino é uma das propostas dos tucanos e do governo do ilegítimo Michel Temer (MDB) para a educação. Eles planejam sucatear ao máximo as universidades que são principais polos de produção de conhecimento do país; mas que também oferecem resistência às políticas neoliberais de entreguismo do patrimônio nacional e de exploração dos trabalhadores.
Em sintonia com o atual Ministério da “Educação”, os governos do PSDB visam estrangular financeiramente as instituições, para em seguida cobrar mensalidades e privatizar toda a rede.
Fonte: https://www.esmaelmorais.com.br/2018/03/beto-richa-fecha-universidades-publicas/
Acesso: 19 mar. 2018.
A EPIDEMIA DE JOVENS RECLUSOS EM SEUS QUARTOS
O fenômeno dos “hikikomori”, jovens em autorreclusão, torna-se
uma epidemia no Japão, atinge um milhão de pessoas, e avança no
Ocidente. Quais suas bases?
Por Matteo Zorzoli | Tradução: Luisa Rabolini (IHU Online)
Eles estão entre os 14 e 25 anos e não estudam nem trabalham. Não têm
amigos e passam a maior parte do dia em seus quartos. Dificilmente
falam com os pais e parentes. Eles dormem durante o dia e vivem à noite
para evitar qualquer confronto com o mundo exterior. Eles se refugiam
nos meandros da Web e das redes sociais com perfis falsos, único contato
com a sociedade que abandonaram. São chamados de hikikomori, palavra
japonesa para “ficar de lado”. Na Terra do Sol Nascente já atingiram a
cifra alarmante de um milhão de casos, mas é equivocado considerá-lo um
fenômeno limitado apenas às fronteiras japonesas.
“É um mal que assola todas as economias desenvolvidas – explica Marco Crepaldi, fundador do Hikikomori Itália,
a primeira associação nacional de informação e apoio sobre o tema. – As
expectativas de interação social são uma espada de Dâmocles para todas
as novas gerações do século XXI: há aqueles que conseguem suportar a
pressão da competição na escola e no trabalho e aqueles que, em vez
disso, largam tudo e decidem se autoexcluir”.
As últimas estimativas falam de milhares de casos italianos
de hikikomori, um exército de presos que pede ajuda. Um número que tende
a aumentar se não conseguirmos dar ao fenômeno uma clara posição
clínica e social.
Um fenômeno de contornos ainda pouco claros
Associações como a Hikikomori Itália já há anos estão fazendo todo o
possível para sensibilizar a opinião pública sobre um desconforto que é
muitas vezes confundido com incapacidade e falta de iniciativa das novas
gerações. Um equívoco que encontrou terreno fértil no debate político,
legislatura após legislatura, criando estereótipos como “bamboccioni”
(adulto com comportamento infantil e mimado, ndt) , um termo cunhado em
2007 pelo então ministro da Economia, Tommaso Padoa-Schioppa, ou “jovens
italianos choosy” (exigentes) da ex-ministra do trabalho, Elsa Fornero,
até chegar ao limite da sigla Neet, (em português, são os chamados
“nem-nem”, ndt) os jovens que não têm “nem trabalho nem estudo”, que de
acordo com uma pesquisa da Universidade Católica de 2017 seriam cerca de
2 milhões em todo o país.
Também do ponto de vista médico, o hikikomori sofre de uma
classificação nebulosa. No Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM), a “Bíblia” da psiquiatria, ainda está
registrada como síndrome cultural japonesa: uma imprecisão que tende a
subestimar a ameaça do distúrbio no resto do mundo e cria consequências
perigosas.
“Muitas vezes é confundido com síndromes depressivas e, nos piores
casos o jovem é carimbado com o rótulo de dependência em internet –
explica Crepaldi – Um diagnóstico desse tipo geralmente leva ao
afastamento forçado de qualquer dispositivo eletrônico, eliminando,
dessa forma, a única fonte de comunicação com o mundo exterior para o
doente: uma verdadeira condenação para um garoto hikikomori”.
Como alguém se torna um hikikomori?
O ambiente escolar é um lugar vivenciado com sofrimento especial
pelos hikikomoris, não surpreendentemente a maioria deles se inclina ao
isolamento forçado durante seus anos finais do ciclo fundamental e
durante o ensino médio. É neste período que geralmente ocorre o ‘fator
precipitante’, que é o evento-chave que inicia o movimento gradual de
afastamento dos amigos e familiares. Pode ser um episódio de bullying ou
uma nota ruim na escola, por exemplo.
“Um evento inofensivo aos olhos de outras pessoas, mas
contextualizado dentro de um quadro psicológico frágil e vulnerável,
assume uma importância muito significativa – explica Crepaldi – É
a primeira fase do hikikomori: o garoto começa a faltar dias de aula
usando qualquer desculpa, abandona todos as atividades esportivas,
inverte o ciclo vigília-sono e se dedica a compromissos monótonos
solitários como o consumismo desenfreado das séries de TV e videogames”.
É importante intervir exatamente nesse primeiro estágio do distúrbio
quando se manifestam os primeiros sinais de alarme. Nessa fase, os pais e
os professores desempenham um papel crucial na prevenção: investigar a
fundo as motivações íntimas do desconforto e, se necessário, buscar
rapidamente o apoio de um profissional externo para evitar a transição
para uma fase mais crítica, quando seria necessária uma intervenção que
poderia durar até anos.
Itália e Japão: duas faces da mesma moeda
É inegável que a cultura japonesa historicamente tem se caracterizado
por uma série de fatores que aumentam a dimensão do fenômeno, a ponto
se ser já possível se falar de duas gerações de hikikomori, a primeira
desenvolvida na década de 1980. O sistema social e escolar extremamente
competitivo e o papel da figura paterna muitas vezes ausente por causa
de horários de trabalho extenuantes estão na base das expectativas
opressivas e muitas vezes não concretizadas. Mesmo considerando as
devidas proporções, mesmo na Itália as pressões sociais são muito
fortes. Determinantes desde os primeiros casos
de hikikomoris diagnosticados em 2007, são a diminuição dos nascimentos
com o consequente aumento de filhos únicos, geralmente submetidos a
pressões maiores, a crise econômica que torna muito distante o ingresso
(real) no mercado de trabalho e a explosão de cultura da imagem,
exacerbada pela disseminação capilar das redes sociais.
Na Itália a síndrome não afeta só os homens, como no Japão, mas
inclui também um discreto número de hikikomori-mulheres, com uma
proporção de 70 para 30. “Por uma questão cultural as famílias
consideram, no entanto, a reclusão da filha como um problema menor –
diz Crepaldi – provavelmente porque a veem como uma futura dona de casa
ou esperam que um dia se case e saia de casa”.
No contexto italiano, aliás, existem diferenças entre uma região e
outra: os hikikomoris do norte da Itália têm, de fato, características
diferentes daqueles do sul. Justamente por isso, o site Hikikomori
Itália disponibiliza salas de chat regionais, onde os jovens podem
discutir problemas com os seus conterrâneos que sofrem da mesma
síndrome.
Existe apenas uma regra dentro do chat: quem entra não é obrigado a
interagir, mas é apreciada uma breve apresentação. Aqueles que não a
respeitam são “bloqueados”. Para aqueles que querem contar a sua
história também tem um Fórum, aberto tantos aos jovens como aos pais: um
mundo paralelo, silencioso, impalpável.
Uma tela de pedidos de ajuda e de sofrimento, mas também histórias de sucesso. Como a de Luca, 25 anos:
“O dia e noite eram idênticos, eu dormia quando sentia vontade, comia
quando queria. Eu perdi todos os meus amigos e a tela era um “Stargate”
para outro universo. O tempo se dilatava quando eu clicava no teclado e
eu nunca queria parar. Quando precisava tomar banho ficava ansioso
debaixo do chuveiro para voltar logo a jogar.
Eu passei mais de dois anos jogando Wow [World of Warcraft, um jogo
de estratégia, nde] em total isolamento. Eu não conseguia mais nem
andar. Tudo isso aconteceu sem que minha mãe percebesse: trabalhava das 8
às 17 e eu fingia que ia à escola. Eu já não queria mais ir. Muita
pressão.
O isolamento é uma batalha que no final torna-se uma cura. Crescia
dentro de mim como uma onda, lentamente, até o momento em que tudo
começou a me incomodar, eu detestava tudo o que eu fazia, eu não
suportava mais quem eu era.
Hoje eu estou fora, eu moro no exterior e tenho uma linda namorada.
Sou ou fui um hikikomori? Eu não sei, mas o que eu sei é que a força
para combater esse demônio está e existe apenas dentro de você, ninguém
pode ajudá-lo, na taberna de alguma montanha virtual onde você se
perdeu, com a sensação de paz que envolve a sua mente. O único conselho
que acho que posso deixar é: fujam do computador”.
Fonte: https://outraspalavras.net/outrasmidias/capa-outras-midias/a-epidemia-de-jovens-reclusos-em-seus-quartos/
Acesso: 26 fev. 2018.
MUDANÇA EM PROJETO DE EDUCAÇÃO DEIXA CERCA DE 130 MIL ALUNOS DO RS SEM AULAS NO TURNO INVERSO
Vagas do Mais Educação, do governo federal, caíram de mais de 184 mil no ano passado para pouco mais de 54 mil este ano. Escolas com índices mais elevados do Ideb acabaram afetadas.
A mudança
nos critérios de adesão ao projeto Mais Educação, do governo federal,
atingiu escolas do Rio Grande do Sul. Justamente as que tiveram as
melhores notas no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb)
vão perder o turno inverso, o que corresponde a quase 130 mil alunos. As
vagas caíram de mais de 184 mil no ano passado para pouco mais de 54
mil este ano.
O Mais Educação existe no estado desde 2010. No turno contrário ao das
aulas, os estudantes têm a oportunidade de fazer atividades como reforço
de português, matemática, atividades de canto, xadrez e cineclube.
As cidades mais prejudicadas com a mudança foram Canoas, Novo Hamburgo,
Viamão e Gravataí. Só nesses quatro municípios da Região Metropolitana,
quase 20 mil alunos vão perder a chance de se desenvolver mais.
No ano passado, Gravataí teve o melhor desempenho da história do Ideb: 5,2.
Os critérios do Ministério da Educação para o programa mudaram este
ano. Escolas com melhor desempenho no Ideb não vão mais receber o
recurso. As notas têm que ficar abaixo de 4,4 nos anos iniciais e 3 nos
anos finais. Além disso, o Bolsa Família agora faz parte dos critérios:
50% dos alunos precisam estar inscritos no programa.
Na Escola Carlos Bina, o Ideb passou da faixa por pouco - o dos anos
iniciais foi 4,7 e o dos anos finais ficou em 3,6. Só que a escola
também não se encaixa em outro critério: a maioria dos alunos não faz
parte do Bolsa Família.
"No fim de 2017 a gente teve a notícia de que não seríamos mais uma
escola apta a receber o projeto em 2018", diz a diretora da escola,
Márcia Cristiane Soares.
"Minha filha tem bastante dificuldade em português e matemática, entrou
no projeto ano passado, e para mim foi uma boa notícia, porque depois
que ela entrou no projeto, começou a se desenvolver melhor", dia Juliana
Francisco, mãe de aluno.
Os alunos da escola também lamentam a mudança. "Eu estou muito triste
pelo Mais Educação ter acabado, eu acho que era um projeto muito bom que
melhorava o desempenho dos alunos", diz Alexandre Rodrigues.
Em outra escola municipal, que fica no bairro Conceição, 80 alunos tinham letramento, matemática, futebol, desenho e dança.
"Aqui na escola nós temos muitas crianças de vulnerabilidade, que
passam a maior parte do tempo na rua, não têm o que comer, não têm quem
os proteja, e aqui elas tinham toda a assistência. Agora, com essa
perda, elas vã sentir muita falta. É uma lástima, porque com o Mais
Educação a gente vê resultado, a gente vê que a criança tem dificuldade.
Ela tem auxílio, e o resultado vai aparecer mais adiante. Com essa
retirada, a escola vai perder muito, os alunos vão perder muito",
lamenta a diretora Adriana Frosi.
Fonte: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/mudanca-em-projeto-de-educacao-deixa-cerca-de-130-mil-alunos-do-rs-sem-aulas-no-turno-inverso.ghtml
Acesso: 21 fev. 2018.
MAIS CRECHES, MAIS SUCESSO PARA AS MÃES
Estudo analisa políticas laborais para apoiar quem tem filhos e conclui que elas beneficiam tanto as profissionais quanto as empresas.
Quando um bebê nasce e a mãe precisa voltar à labuta, com
quem deixá-lo? Se ela pode contar com a ajuda de parentes, contratar uma
babá ou pagar por uma creche, a resposta se torna fácil. Mas nem sempre essas opções estão disponíveis, cabem no bolso da mulher
ou são compatíveis com a jornada laboral. Por isso, muitas mulheres
acabam desistindo de trabalhar antes mesmo da licença-maternidade.
Isso
afeta especialmente as mulheres mais pobres, que deixam de ter uma
fonte de renda e privam seus filhos de acesso a uma educação de
qualidade na primeira infância.
"Sem esse benefício, essas crianças podem ficar presas em um ciclo
intergeracional de pobreza, do qual é praticamente impossível se
libertar", diz um estudo recente da International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial para o desenvolvimento do setor privado.
A publicação inclui bons exemplos de empresas de vários setores – alguns com mais, outros com menos participação feminina –
que oferecem diferentes tipos de apoio às mães e aos pais e conclui: ao
investir em políticas para esses trabalhadores, todos ganham, começando
com as mulheres, que podem conquistar mais e melhores oportunidades no
mercado global.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho,
a participação do trabalho das mulheres ainda é cerca de 30 pontos
percentuais menor que a dos homens. "O acesso ao cuidado infantil
subsidiado pode ter um impacto positivo significativo nas taxas de
emprego e no número de horas que as mulheres trabalham", acrescenta o
relatório, com base em evidências dos países da América Latina e do
Caribe e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Menos erros, mais produtividade
O relatório combina exemplos de empresas
de todo o mundo com uma análise aprofundada de 10 corporações em oito
países, incluindo o Brasil, o único latino-americano na amostra. Alguns
dos benefícios oferecidos por eles são, dentre outros:
• Creches no trabalho;
• Parcerias com creches privadas;
• Áreas onde as mães possam amamentar;
• Licença-paternidade
e outros incentivos para que os homens desempenhem um papel mais ativo
na educação de seus filhos, uma vez que, na comparação com os homens, as
mulheres globalmente passam três vezes mais horas prestando cuidados
não remunerados;
• Horários flexíveis para mães e pais;
• Colônias de férias.
Depois de adotar uma combinação de benefícios desse tipo
(para mulheres e homens), um banco japonês participante da pesquisa
comemora o fato de 90% das funcionárias continuarem trabalhando ao
voltar da licença-maternidade. Antes disso, elas pediam demissão sem nem sequer ter dado à luz.
No Brasil, onde se analisou uma indústria de alimentos, a pesquisa descobriu que as mulheres cujos filhos estão na creche – uma instituição privada parceira da empresa – cometem menos erros e não faltam frequentemente, o que melhora a produtividade.
"Você pode vê-lo em relatórios de saúde
e segurança: as pessoas estão mais calmas se eles sabem que seus filhos
estão seguros", explicou o gerente da fábrica à equipe que fez o
relatório. Além de estarem mais concentrados, as mulheres são mais
propensas a permanecer em empresas que oferecem esse tipo de benefício.
Ao manter essas profissionais na equipe, as empresas
diminuem a rotatividade, o que afeta a produção e implica custos entre
5,8% e 213% do salário de um trabalhador (segundo dados de 2012).
O aumento da diversidade e a maior ascensão das mulheres a cargos de chefia é uma vantagem óbvia para elas e não tão explícita – mas igualmente interessante –
para os empregadores. Por quê? Pesquisas em países em desenvolvimento,
emergentes e desenvolvidos mostram que as empresas com maior diversidade de gênero na liderança superam financeiramente os competidores, pois tendem a inovar mais na tomada de decisões, por exemplo.
Muito além do cumprimento da lei
Em alguns países, como a Jordânia,
proporcionar cuidados infantis nas áreas rurais foi crucial para
convencer as mulheres com pouca experiência de emprego remunerado a
buscar trabalho no setor industrial. Em outras empresas de países como África do Sul, Índia, Estados Unidos e Alemanha, mencionadas no relatório, não basta oferecer esses serviços – porque, sem eles, as companhias não seriam competitivas em seu setor ou região –, mas fazê-lo de forma que as diferencie da concorrência.
As políticas para mães e pais também podem, de acordo com o
estudo, ajudar as empresas a acessar novos mercados e compradores - já
que alguns começam a preferir empresas favoráveis às mulheres - ou
conquistar novas fontes de financiamento e investimento. Cumprir a
legislação nacional sobre o assunto é muitas vezes um requisito básico
para manter relações comerciais com os principais compradores
internacionais. Mas ir além disso permite às companhias se consolidar
como parceiras comerciais confiáveis e de alta qualidade.
Além de discutir as vantagens dos programas de suporte para
mães e pais, o relatório apresenta várias recomendações para empresas
que desejam implementá-los ou aprimorá-los.
Entre elas, analisar o tamanho da demanda e o momento em que
é mais necessário oferecer esses benefícios; verificar as lacunas nos
serviços existentes e, por último, mas não menos importante: como o
recrutamento, a produtividade, os erros, os acidentes, o volume de
negócios, o desempenho, o atraso e a motivação são afetados? As
respostas ajudarão a enfrentar efetivamente um dos desafios mais
importantes para casais e empresas de todo o mundo.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/05/economia/1517843536_032667.html
Acesso em: 14 fev. 2018.
PRÁTICA DE MINDFULNESS NO AMBIENTE ESCOLAR PODE TRAZER BENEFÍCIOS A ALUNOS E PROFESSORES
O uso das práticas de atenção plena (mindfulness) nos
ambientes educacionais tem se tornado cada vez mais frequente em todo o
mundo. Sabe-se que elas ajudam os estudantes a aprimorar a atenção em
classe, a regular melhor suas emoções e a adquirir maior habilidade nas
inter-relações sociais. Mas, para entendermos esses efeitos, precisamos
saber primeiro o que é atenção plena e como ela atua, gerando tantas
consequências desejáveis para estudantes e educadores.
Mindfulness é uma palavra da língua inglesa que não tem um equivalente exato em português. O adjetivo mindful se refere a quem está atento ou consciente de alguma coisa, e mindfulness seria assim o estado de estar atento, de estar consciente. Em termos operacionais, mindfulness
tem sido definida como a consciência do momento presente, quando
fixamos nele nossa atenção voluntária, suspendendo qualquer julgamento
sobre o que aparece em nosso fluxo de consciência e deixando fluir as
experiências ao longo do tempo. Ou seja, como o momento presente é
fugaz, mantemos a atenção plena na sequência de momentos presentes, da
maneira como eles se apresentam à nossa consciência.
As práticas de mindfulness são um tipo de meditação e isso
requer algumas considerações. O termo “meditação” designa um grupo de
técnicas utilizadas para treinar a atenção, com o intuito de cultivar
vários estados mentais positivos. Existem muitos tipos de meditação e,
embora usualmente a associemos com o budismo, ela tem sido utilizada ao
longo dos séculos por várias tradições espirituais, como o hinduísmo, o
taoismo, o judaísmo e mesmo o cristianismo. A meditação, no entanto, pode ser
praticada em um contexto totalmente secular, sem nenhuma conotação
religiosa.
Pesquisas científicas recentes têm demonstrado que a sua
rotina produz modificações na estrutura e no funcionamento do cérebro
que podem trazer benefícios para os indivíduos e também para o ambiente
social.
Modificações no cérebro
Muita gente acredita que meditar é esforçar-se para deixar a “mente
vazia”, totalmente sem pensamentos, o que é praticamente impossível. Na
verdade, na meditação procura-se dirigir e manter o foco da atenção
consciente em um objeto, que pode ser interno – como pensamentos,
emoções e estados corporais – ou externo, como estímulos sonoros ou
visuais. Ao mesmo tempo, é importante manter o estado de alerta (não
sonolência) e o relaxamento corporal. O objeto da atenção pode ser
variado, mas é muito frequente que ele seja a própria respiração. A
atenção mantida na respiração traz o fluxo da consciência para o momento
presente e dificulta a divagação mental, essa tendência natural que tem
a nossa mente de devanear, lembrando-se ou fazendo planejamentos todo o
tempo em que não estamos engajados em uma tarefa que exige esforço
intelectual. A divagação mental é o principal obstáculo a ser contornado
por quem está empenhado em meditar.
Muitos pesquisadores têm se interessado pelo estudo da meditação,
principalmente nas duas últimas décadas, e conseguido demonstrar que ela
produz modificações fisiológicas que se refletem na psicologia da
cognição e no processamento emocional, constituindo um exemplo eloquente
das influências recíprocas entre o corpo e a mente. Aqui é importante
deixar claro que o que chamamos de mente – como o nosso fluxo de
consciência – são processos que decorrem do funcionamento do cérebro.
Não pode existir uma mente sem um cérebro em funcionamento; contudo, a
atividade mental pode, por sua vez, modificar o próprio cérebro, numa
interação bidirecional que só agora começamos a compreender de forma
mais adequada.
Técnicas avançadas para a pesquisa em neurociência, como a
ressonância magnética funcional, têm mostrado que várias estruturas
cerebrais são modificadas pela prática da meditação. O córtex
pré-frontal, a região cortical situada na parte mais anterior do
cérebro, é uma delas. Outras regiões afetadas são, por exemplo, o
cíngulo anterior, a ínsula e a amígdala cerebral. Geralmente, a
meditação promove um aumento da espessura cortical, indicando que houve
um acréscimo de prolongamentos das células nervosas e nas conexões
sinápticas dessas regiões. Ocorrem também alterações nas vias que ligam
algumas dessas estruturas a outros centros nervosos. Tudo isso modifica o
funcionamento cerebral: algumas funções são facilitadas, enquanto
outras são inibidas. Em outras palavras, o cérebro que medita se torna
diferente na sua maneira de interagir com os estímulos, sejam eles
internos ou ambientais.
A prática de mindfulness envolve treinar a atenção
voluntária, portanto é de esperar que ocorra alteração na capacidade
atencional da pessoa que medita. E isso é precisamente o que ocorre. O
esforço em focar a atenção promove modificações nos circuitos que a
sustentam e no córtex do cíngulo anterior, o que aumenta a habilidade de
permanecer consciente do momento atual: a capacidade de estar realmente
presente, e não perdido em divagações. Muitas pesquisas têm mostrado
que a atenção executiva, que nos permite manter a concentração, inibindo
estímulos e comportamentos distraidores, torna-se mais eficiente
naqueles que meditam. Trata-se de uma forma de aprendizagem que ocorre
por meio da neuroplasticidade, a capacidade que o cérebro tem de
reorganizar-se constantemente. O efeito benéfico sobre a atenção pode
ser observado já com poucos dias de prática meditativa. Como resultado,
ocorre também aperfeiçoamento da memória operacional, o que pode levar,
por exemplo, à melhora do desempenho escolar.
Redução do estresse
Outro efeito relevante da prática de mindfulness é uma
modificação na reatividade emocional: as pessoas que meditam costumam
ser menos tomadas por impulsos emocionais e, quando isso acontece,
conseguem retornar à normalidade mais rapidamente. As pesquisas sugerem
que isso decorre de um maior controle da região pré-frontal sobre a
amígdala cerebral. Essa última estrutura é responsável por detectar
situações com significado emocional e desencadear as respostas
periféricas que caracterizam nossa resposta a essas situações. A
meditação provoca alterações estruturais e funcionais na amígdala,
diminuindo sua atividade. Por outro lado, o controle pré-frontal faz com
que a regulação consciente tenha uma ação mais efetiva ou, em outras
palavras, que os processos racionais intervenham no processamento
emocional.
Nesse contexto, é interessante notar que a prática de mindfulness
tem um papel considerável na redução do estresse e dos seus efeitos
nocivos na saúde e no comportamento. Ao longo do processo evolutivo,
nosso cérebro desenvolveu-se de forma a enfrentar situações de perigo,
que mobilizam as emoções, iniciando em nosso corpo muitas respostas
fisiológicas que o preparam para enfrentá-las. Por exemplo, o coração
dispara, a pupila dilata-se, o sangue foge do intestino e da pele,
dirigindo-se para os músculos e o cérebro. Essas são respostas
desencadeadas por uma parte do sistema nervoso que se dirige aos nossos
órgãos internos, que leva o nome de sistema nervoso simpático. Nessas
situações, uma porção distinta do sistema nervoso visceral, o sistema
parassimpático, é inibida (o parassimpático é utilizado em situações de
calmaria, quando estamos, por exemplo, digerindo uma refeição). Uma
resposta adicional, característica das situações de perigo, é a secreção
de um hormônio da glândula suprarrenal, o cortisol, que tem ações que
ajudam a preparar o organismo para enfrentar emergências. Essas
respostas são vantajosas quando o indivíduo precisa livrar-se de uma
ameaça passageira. Contudo, quando o estresse se torna muito frequente
ou constante, as modificações fisiológicas que eram benéficas passam a
ser um problema, pois agem promovendo efeitos nocivos. Podem ocorrer,
por exemplo, distúrbios cardiocirculatórios, como hipertensão arterial, e
psicológicos, como ansiedade e depressão.
A prática de mindfulness, observou-se, promove diminuição da
atividade simpática e aumento da parassimpática. Os níveis do cortisol
na circulação sanguínea são diminuídos e o sistema imunológico,
responsável pela defesa do organismo, é estimulado, pois aumenta a
concentração de anticorpos no sangue. Em síntese, a meditação provoca
modificações fisiológicas que reduzem o estresse e protegem o organismo
contra suas ações nocivas.
Diminuição da violência
Outro resultado da prática de mindfulness é um aumento da
consciência corporal, a capacidade de perceber as sensações que ocorrem
no próprio corpo. Provavelmente, isso decorre de alterações que a
meditação provoca na ínsula, uma região cortical que recebe as
informações corporais que têm um valor hedônico, ou seja, as sensações
que são agradáveis ou desagradáveis. Na ínsula se tornam conscientes
sensações dolorosas, mas ela também processa, por exemplo, as
informações sensuais, decorrentes da atividade sexual.
A ínsula tem sua espessura aumentada pela atividade de mindfulness
e torna-se mais ativa naqueles que meditam. O resultado é um aumento da
capacidade de perceber prontamente e com clareza as respostas corporais
desencadeadas pelas emoções, o que permite que possamos regulá-las de
forma mais adequada.
As emoções são inevitáveis, elas acontecem e são essenciais no nosso
cotidiano, mas é importante que saibamos identificá-las oportunamente
para poder responder a elas de forma positiva nos diversos contextos
sociais. Isso constitui o que chamamos de inteligência emocional.
A ínsula tem também um papel relevante no fenômeno da empatia: a
habilidade de perceber as emoções alheias e se identificar com elas. A
empatia é importante, por exemplo, porque pode levar à diminuição da
agressividade e ter um efeito benéfico na regulação das interações
sociais. Portanto, a prática de mindfulness, por suas ações nos
circuitos nervosos envolvidos com as emoções, pode melhorar o ambiente
social, contribuindo, por exemplo, para a diminuição da violência que se
observa em alguns espaços escolares.
Melhora da autoestima
Outra característica decorrente da prática de mindfulness
que merece ser referida é a modificação da autopercepção. Os
meditadores, ao observarem o seu fluxo de consciência, notam que os
conteúdos que passam pela mente – pensamentos, sentimentos e emoções –
são transitórios e estão em permanente mudança e que não há necessidade
de se sentir enredado por eles. Não há uma identificação automática com
os conteúdos da consciência e ocorre um processo de distanciamento do
“eu” tradicional. Isso permite uma autorrepresentação mais positiva,
melhora da autoestima e maior aceitação de si mesmo, com aumento da
sensação de bem-estar. Os pesquisadores acreditam que essas modificações
são decorrentes da menor ativação do chamado “circuito cerebral
padrão”, responsável pela divagação mental, pois esta é usualmente
autorreferente e nos prende a uma autopercepção automática e acrítica.
Em síntese, pode-se dizer que a prática de atenção plena atua nas
chamadas funções executivas do cérebro, promovendo um aumento da
autorregulação por suas ações no controle da atenção, na regulação
emocional e nos processos da autoconsciência. A autorregulação é a
capacidade que nos permite atingir nossos objetivos da maneira mais
adequada ao longo de toda a vida, e os dados disponíveis mostram que
essa habilidade tem alta correlação com vários aspectos positivos como o
desempenho escolar, a manutenção da saúde ou a boa escolha profissional
e correlação negativa com problemas com o uso de drogas ou
transgressões legais.
A capacidade de autorregulação é variável entre as pessoas, mas pode
ser aprendida e, portanto, é desejável que se busque aprimorá-la por
meio da educação. Na verdade, isso corresponde ao que chamamos de
aprendizagem socioemocional: o desenvolvimento de competências como a
autogestão, a autoconsciência, a consciência social, as habilidades
relacionais e as tomadas de decisão conscientes. Essas competências são
estimuladas pela meditação, e essa é uma razão muito convincente para
que ela seja introduzida no processo educacional. Existem, em todo o
mundo, muitas experiências da prática de mindfulness em ambientes escolares, e vários estudos já constatam os resultados positivos dessa introdução.
Benefícios para professores
No ambiente escolar, é interessante que os professores tenham familiaridade com a técnica de mindfulness
para que possam transmiti-la aos alunos. Aliás, existem dados mostrando
que professores que meditam conseguem mudanças no comportamento dos
alunos mesmo que estes não estejam envolvidos nas práticas de atenção
plena. O que acontece é que os professores ganham habilidades interiores
como autoconhecimento e alívio do estresse e transmitem aos alunos
calma e atenção compassiva, criando uma atmosfera de aceitação, cuidado e
encorajamento.
Sabe-se que a atividade profissional dos professores é uma das mais
sujeitas a altos níveis de estresse, o que faz com que, frequentemente,
eles sejam levados ao esgotamento (burnout). A prática de mindfulness
pode ajudá-los na redução desse estresse, na melhoria do equilíbrio
emocional e das relações interpessoais, além de contribuir para a
sensação de bem-estar. Tudo isso, é claro, conduz ao aprimoramento do
ambiente escolar.
Quanto à prática de atenção plena com as crianças, já existem muitas
atividades especiais que levam em conta as diferentes faixas etárias.
Assim, são contempladas as diferentes fases do desenvolvimento e não se
exige, por exemplo, que as mais jovens tenham de permanecer imóveis ou
concentrar-se na respiração por longo tempo, o que, naturalmente, é
difícil para elas. O importante é fazer com elas aprendam a dirigir sua
atenção e a ignorar distrações. Que aprendam a observar o próprio corpo,
suas sensações e emoções e sejam capazes de lidar com elas com clareza e
objetividade. Devem aprender a ser pacientes e generosas, a saber viver
em grupo, em equilíbrio com outras pessoas e com o ambiente.
É comum pedirmos aos estudantes que prestem atenção, mas usualmente
não se ensina a eles como fazer isso. Assim como não se ensina a
controlar os impulsos, ou a empatia e gentileza para com os outros. A
escola já tem uma grande carga com o conteúdo curricular e não sobra
muito tempo para observar aspectos importantes, como o emocional ou o
social, que são indispensáveis para o verdadeiro crescimento dos alunos.
Integrar a atenção plena ao processo educacional pode contribuir para o
desenvolvimento desses aspectos, e o que se observa como resultado é um
melhor desempenho escolar, menor impulsividade, maior sensação de
bem-estar e eficiência nas funções executivas. Contudo, é importante
evitar que a prática de meditação seja outra atividade compulsória a que
os estudantes são obrigados a se submeter, pois isso, além de
contraproducente, seria contrário à própria essência da prática.
Meditar é uma habilidade muito simples, mas que não é tão fácil como
parece à primeira vista, pois não acontece de repente: exige disciplina e
regularidade. É como aprender a nadar ou a tocar um instrumento
musical, o que demanda exercício dedicado e constante. Jon Kabat Zin,
iniciador de programas de mindfulness nos Estados Unidos,
sustenta que meditação de atenção plena não é uma técnica, mas uma
maneira de existir. Uma maneira de ser que em essência busca estar em
sintonia com a própria experiência do momento presente, com clareza,
aceitação e serenidade. É algo de que necessitamos no mundo conturbado
em que vivemos e que merece ser levado às novas gerações.
Fonte: http://www.revistaeducacao.com.br/pratica-de-mindfulness-no-ambiente-escolar-pode-trazer-beneficios-a-alunos-e-professores/
Acesso: 04 fev. 2018.
ENSINO MÉDIO PERDE ALUNOS E ACUMULA 1,5 MILHÃO DE JOVENS FORA DA ESCOLA
Alunos da escola estadual Alexandre von Humbolt, de SP, durante a aula de educação artística
As matrículas do ensino médio tiveram queda em 2017, no momento em que
se esperava um movimento contrário, de inclusão, já que há cerca de 1,5
milhão de jovens de 15 a 17 anos fora da escola. Essa etapa de ensino é
considerada um dos principais gargalos da educação básica.
Dados do Censo da Educação Básica de 2017, divulgadas pelo MEC
(Ministério da Educação) nesta quarta-feira (31), mostram que o país tem
48,6 milhões de alunos. Eles estão matriculados em 184,1 mil escolas
(83% são públicas), da educação infantil ao ensino médio.
O total de matrículas vem caindo ao longo dos anos. A queda é
impulsionada, sobretudo, por dois movimentos: a melhora no fluxo escolar
(com taxas mais positivas de aprovação) e uma redução no número de
crianças no país. A despeito do quadro geral, ainda são altos os índices
de reprovação e abandono nos anos finais do ensino fundamental (6º ao
9º ano) e no ensino médio.
O país registrou 7.930.384 alunos no ensino médio em 2017. O número
representa uma queda de 2,5% com relação às matrículas do ano passado.
Do total desses alunos, 84,8% estão em escolas estaduais.
"A matrícula do ensino médio segue a tendência de queda observada nos
últimos anos que se deve tanto a uma redução da entrada proveniente do
ensino fundamental quanto à melhoria no fluxo no ensino médio",
ressaltou o MEC na divulgação dos dados. Entre 2013 e 2017, enquanto as
matrículas do 9º ano tiveram queda de 14,2%, a taxa de aprovação do
ensino médio subiu 2,8 pontos percentuais.
Matrículas Educação Básica
Por rede, em 2017
A estagnação das matrículas no médio indica, também, que o país não tem
conseguido incluir os cerca de 1,5 milhão de jovens que abandonaram as
salas de aula antes de terminar a educação básica. Esse contingente
equivale a 15% do total de jovens de 15 a 17 anos, faixa etária ideal
para o nível médio
Estudo recente coordenado pelo economista Ricardo Paes de Barros mostra
que, mantido o ritmo de expansão da escolaridade dos últimos 15 anos, o
país levaria 200 anos para universalizar o atendimento.
Publicidade
Por outro lado, o ensino médio em tempo integral teve alta. O volume de
matrículas nessa modalidade representou 8,4% do total de alunos em 2017.
Eram 6,7% no ano anterior. A modalidade é uma das apostas do governo
Michel Temer para alavancar a qualidade da etapa, mas há estudos que indicam que o acesso é desigual –as escolas com maior carga horária atendem aos alunos com melhor situação socioeconômica.
Já as matrículas de ensino médio integrado ao ensino profissional, outra
aposta do governo para a etapa, ficaram praticamente estagnadas. Se em
2017 elas eram 6,54% do total de alunos, em 2017 esse índice passou a
6,99% –o que significa 554.319 alunos. A educação profissional é uma das
linhas de aprofundamento previstas com a reforma do ensino médio realizada pela equipe de Temer.
EDUCAÇÃO INFANTIL
O número de alunos em creche (0 a 3 anos) cresceu, chegando a 3.406.796
alunos. É 5% superior ao ano passado. Na pré-escola (4 e 5 anos), o
avanço foi mais tímido, de 1,2% no período, totalizando 5.101.935
alunos.
O Brasil tem a meta, prevista no PNE (Plano Nacional de Educação), de
matricular ao menos 50% das crianças de 0 a 3 anos em creche até 2024.
Todas as crianças na idade de pré-escola deveriam estar na escola desde
2016, segundo o PNE e emenda constitucional aprovada em 2009. Em todo o
país, o atendimento na creche é de 30,4% e na pré-escola, de 90,5%,
segundo o Observatório do PNE, do Movimento Todos Pela Educação.
A qualidade desse atendimento também é deficiente. Um terço dos
professores que atuam na educação infantil não tem diploma de ensino
superior. No ensino médio esse índice é de 6,5% e no fundamental, de
14,7%.
O país tinha 27.348.080 alunos no ensino fundamental em 2017. São 1,8
milhão de alunos a menos do que em 2013, tendência explicada pela
melhoria do fluxo e redução no número de crianças.
As redes municipais concentram a maioria dos alunos do fundamental.
Condições de precariedade persistem, segundo o Censo da Educação Básica.
Pouco mais de 6% das escolas não possuem sistema de esgoto sanitário,
mais da metade não dispõe de laboratório de informática e 46% não têm
sala de leitura ou biblioteca.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2018/01/1954625-ensino-medio-perde-alunos-apesar-de-pais-ter-15-mi-de-jovens-fora-da-escola.shtml
Acesso: 31 jan. 2018.
“LIBERDADE DE ENSINAR É CONDIÇÃO PARA MELHORAR NOSSO DEBATE DEMOCRÁTICO”
Amanda Travincas, autora de tese premiada sobre a liberdade acadêmica, critica o "escola sem partido".
“Garantir sala de aula livre não é limitar a expressão do professor, mas fazê-la coexistir com a do aluno”
Nos últimos anos, iniciativas inspiradas no projeto Escola Sem Partido, cujo objetivo é "eliminar a doutrinação ideológica nas escolas", tem surgido em vários Estados e municípios brasileiros.
Alagoas foi o primeiro a aprovar uma lei do tipo, já em 2015, para
instituir o programa Escola Livre, posteriormente suspenso pelo Supremo Tribunal Federal
(STF). Ele proibia qualquer conduta por parte do corpo docente ou da
administração escolar que "imponha ou induza aos alunos opiniões
político-partidárias, religiosa ou filosófica". O município de São
Paulo, por sua vez, está com um projeto pronto para ser votado
na Câmara, que também afirma que o professor da rede pública municipal
deverá se abster de "introduzir, em disciplina obrigatória, conteúdos
que possam estar em conflito com as convicções morais dos estudantes ou
de seus pais".
A
aprovação deste tipo de legislação é danosa para a democracia, na
opinião da professora de direito Amanda Costa Thomé Travincas, autora da
tese de doutorado
"A tutela jurídica da liberdade acadêmica no Brasil: a liberdade de
ensinar e seus limites", defendida na PUC do Rio Grande do Sul e
vencedora no final do ano passado do Grande Prêmio Capes de Tese, que
contempla as melhores pesquisas de doutorado no país. Em seu trabalho,
focado no ensino superior, ela discute os motivos da existência da
liberdade de ensinar ser garantida aos professores e qual o limite de
atuação do professor na sala de aula.
Pergunta. No que consiste a liberdade de ensinar?
Resposta. Liberdade de ensinar é um direito
que está relacionado a uma outra liberdade mais ampla, que é a
liberdade acadêmica ou de cátedra. Está relacionada à autonomia do
professor de gerir a sala de aula, ou seja, de deliberar sobre o
conteúdo que vai ensinar e sobre os métodos que utilizará para abordagem
deste conteúdo. Quando o professor é contratado por uma instituição,
ele recebe um programa de ensino que está afinado a um projeto
pedagógico institucional e tem a incumbência de exercer a sua profissão.
Mas esse ato de contratação não é, ao mesmo tempo, um ato de renúncia
de sua autonomia enquanto sujeito crítico a respeito de assuntos
diversos. No momento em que um professor se torna um funcionário
institucional, ele tem a incumbência de discutir opiniões controvertidas
na sala de aula, de utilizar metodologia para isso, mas continua tendo
suas opções políticas, religiosas, de cunho econômico etc. Na sala de
aula, ele exprime determinada opinião sobre determinado assunto porque
tem um dever profissional de fazer isso, é contratado e pago para isso. É
diferente da gente que, em qualquer circunstância, expressarmos nossa
opinião sobre qualquer assunto. Além disso, ela é um direito
fundamental.
P. Como assim?
R. Na Constituição há um conjunto de normas
que prevê os chamados direitos fundamentais. Mas a liberdade de ensinar
não está prevista neles. Por isso me empenhei na tese em explicar que
ela é um direito fundamental apesar de a Assembleia Constituinte não
tê-la posto dentro deste grupo. Argumento isso relacionando a liberdade
de ensinar ao principio democrático, que é o princípio central da nossa
Constituição. Entendo que a liberdade de ensinar merece uma proteção
diferenciada porque é uma condição para qualificar o nosso debate
democrático. Ou seja, se alunos e professores convivem em instituições
de ensino, em um ambiente de liberdade, em que o aluno escuta não só
posições que corroborem com a sua, mas também posições diversas, isso
otimiza a formação de cidadãos para a participação democrática.
P. E por que o professor deve emitir sua posição na sala?
R. Porque é uma condição para a
qualificação do debate democrático. A apresentação de posições e a
contraposição delas conflagra a sala de aula como um espaço democrático.
Uma democracia não equivale a um conjunto de consensos. Ela é
representada pela coexistência entre posições distintas, ou seja, pelo
dissenso. O dissenso é uma condição da democracia. Se um professor
exprime sua posição e ela é posta em xeque, pode ser contraditada, não
só concretizamos o princípio da democracia como também contribuímos para
o próprio avanço da ciência, que só se dá por contraposição. O avanço
da ciência depende de questionamentos a posições consolidadas.
P. Qual a diferença entre o professor emitir uma opinião e doutrinar?
R. Doutrinação e ensino são coisas
dicotômicas. Ou se doutrina ou se ensina. Nenhuma expressão é por si só
doutrinação ou ensino. O que caracteriza algo como doutrinação e não
ensino é a manifestação de um sujeito somada à impossibilidade de
contraposição por parte de outro. Acontece quando o professor exprime
uma posição e impede o aluno de questioná-lo, de considerar modelos
alternativos. Já o ensino acontece quando o professor emite uma posição,
e não só pode, como deve fazê-lo, mas reconhece a sala de aula como uma
arena propícia pra discutir aquela posição que ele apresentou.
P. Como você avalia o movimento Escola Sem Partido?
R. O projeto parte de uma premissa
equivocada, que é a possibilidade de filtrar o discurso do professor
como se ele fosse apenas um instrumento de repasse do programa
disciplinar. E isso compromete fortemente a sua condição de sujeito. Não
é possível neutralizar até o marco zero o discurso de qualquer pessoa
que seja. E não poderia ser diferente em relação ao professor. O
professor embora tenha um compromisso institucional e público no
exercício da sua profissão, não deixa de ser uma coisa que é prévia a
sua condição de professor, que a condição de cidadão, de um sujeito.
Qualquer sujeito que emite uma expressão, a emite a partir de seu local
de fala, das suas experiências, das suas preferências. Por isso, a
estratégia do Escola Sem partido é equivocada. Para garantir uma sala de
aula livre o caminho não é limitar a paleta de expressões que pode ser
proferida pelos professores. A estratégia é fazer coexistir a expressão
do professor com a expressão do aluno. Ou seja, reconhecer o aluno como
um sujeito autônomo, não como uma tábula rasa que absolverá qualquer
expressão emanada do professor. Este modelo de educação é um modelo
absolutamente retrógrado. Este mesmo discurso, inclusive, já existia em
1933.
P. Como assim?
R. Esta justificativa do Escola Sem
Partido, que é a de que o professor não pode afrontar as convicções
pessoais de cada aluno e de seus pais, foi, curiosamente, o mesmo
argumento usado por parlamentares constituintes em 1933, quando pela
primeira vez uma Assembleia Constituinte discutiu liberdade de ensinar. A
posição deste bloco não vingou e, pela primeira vez, em 1934, a
liberdade de ensinar foi prevista em uma Constituição brasileira. A
discussão foi vencida em um contexto de consolidação de um Estado
democrático muito mais precário do que o que a gente tem hoje. Hoje
nossa democracia é considerada jovem, mas temos conquistas democráticas bem grandes. É curioso que isso venha a pauta novamente.
P. Quais as consequências que você imagina que a aprovação destas legislações possam ter na sala de aula?
R. Acho que as salas de aula serão espaços
de absoluto temor. Para que de alguma forma a proposta do Escola Sem
Partido seja efetiva seria preciso pensar em instrumentos de
fiscalização dos professores. De sorte que não só se reparasse
judicialmente alunos que se sentissem ofendidos pela manifestação de
professores como também se prevenisse a ocorrência destas manifestações.
A sala de aula teria que ser vigiada, como foram vigiadas as salas das
instituições de ensino superior nos anos 60 e 70 no Brasil. É uma neoditadura
que faria com que nós professores tenhamos que medir as nossas palavras
quando lecionamos algo. A probabilidade de proliferações de demandas
judiciais seria imensa. Porque quando eu manifesto uma posição em sala
de aula eu não sei o que vai ofender o aluno. Se uma lei diz que eu não
posso ferir a convicção do meu aluno, em uma sala de aula em que eu
tenho pelo menos 50 alunos com convicções completamente diferentes entre
si, a probabilidade de ofender alguém é altíssima.
P. Mesmo se o professor fosse um robozinho que lesse tudo exatamente como está nos livros e seguisse à risca o currículo?
R. Claro. Porque inclusive os próprios
livros e os currículos imprimem posições subjetivas de alguém. Tanto é
que há uma eterna guerra sobre os livros de história do ensino
fundamental, todo o argumento de que são livros feitos por esquerdistas.
Então, agora o alvo são os professores, depois os livros e depois,
talvez, o Ministério da Educação, que é quem decide as diretrizes curriculares mínimas. Porque é claro que esta decisão também imprime posições subjetivas.
P. Há limites e restrições à liberdade de ensinar que sejam legítimos?
R. Uma coisa importante a deixar claro é
que liberdade não equivalente à anomia, ou seja, não é o mesmo que a
ausência de regras. Poder exercer uma liberdade, como a liberdade
acadêmica, não quer dizer que nós professores não estejamos submetidos a
determinadas regras. São estas regras que impõem limites à liberdade de
ensinar. Por exemplo: eu sou professora do curso de direito, recebo uma
ementa e programa da disciplina que leciono e não posso optar por não
lecionar este programa e lecionar outro. Ou excluir conteúdos dela. Este
é um limite legitimo à liberdade de ensinar.
P. Há casos em que isso acontece?
R. Não conheço casos que vieram a público.
Mas estando em sala a gente vê que isso é muito comum, quase
corriqueiro. Compreender que uma determinada abordagem não é a melhor e
excluí-la. Por exemplo: o professor de direito excluir conteúdos sobre
Marx porque tem uma filiação partidária distinta.
P. Temos visto muitos casos de conflitos em ambientes acadêmicos recentemente. A situação está piorando ou há mais publicidade sobre o tema?
R. Não conseguiria afirmar que a situação
está piorando. Eu penso que os casos estão vindo mais à tona e o nosso
momento político, econômico e institucional fomenta a ocorrência desses
tipos de caso. Nestes momentos de crise é que as posições se firmam e as
contraposições também. Isso não é diferente na universidade, que é um
espaço onde discussões desta natureza acontecem. O momento é propício
para o exercício da liberdade e, por isso, também um momento em que a
tendência a violações a essa liberdade é maior. Comparativamente, os
debates sobre a liberdade acadêmica nos Estados Unidos, onde esta
discussão é bem mais antiga do que no Brasil, aumentaram especialmente
após o 11 de setembro.
Havia uma crise ali também sobre segurança nacional, terrorismo,
religião etc. e isso exacerbou também a discussão sobre a liberdade
acadêmica no país. Penso que nestes momentos de crise elas são propícias
e isso ficou mais evidente no Brasil agora porque as circunstâncias
externas à universidade favorecem isso.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/05/politica/1515162915_230395.html
Acesso: 30 jan. 2018.
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