COMO DESPERTAR O MELHOR EM NOSSOS JOVENS?
Só 11% dos jovens
de 30 países, incluindo o Brasil, experimentam altos níveis bem-estar e
abundância de oportunidades individuais de acordo com o recém-lançado Índice
Global de Bem Estar Juvenil
Tenho uma lembrança muito nítida dos meus 17, 18 anos. Como a
maioria das pessoas nessa idade, sonhava em me formar, conseguir um bom emprego
e construir uma carreira de sucesso. Mas tinha um problema: eu não tinha uma
vocação muito nítida, nem um dom especial. Imagino que boa parte dos jovens,
assim como eu, não consegue identificar esse talento tão precocemente. Decidi,
então, prestar vestibular para Administração e para Jornalismo. Ao final,
fiquei com a primeira opção, por grande influência do meu pai. Ele achava que
se tratava de uma formação mais completa, que me permitiria pavimentar melhor a
minha estrada para uma vida próspera e feliz.
Hoje, olhando para trás, percebo o quanto certas coisas foram
fundamentais para que eu tivesse a força e a motivação necessárias para fazer
as escolhas que fiz. O apoio da minha família foi uma delas e também ter uma
base educacional sólida, uma alimentação e uma vida saudáveis, física e
mentalmente falando, e principalmente, ter a percepção de que as oportunidades estavam
ali, bem ao meu alcance, só tinha que me esforçar para fazer o melhor de mim.
Nós,
como humanidade, nunca fomos tão jovens. Neste momento da nossa história,
aproximadamente metade da população do planeta tem menos de 30 anos. Essa
juventude não só enfrenta os mesmos dilemas que eu e todos nós enfrentamos no
início de nossas vidas adultas, como o faz numa situação de vulnerabilidade,
instabilidade, sem o apoio da família e num clima de extrema insegurança em
relação ao futuro. Eles são jovens em meio a pior crise de desemprego de todos
os tempos e, portanto, não fazem a menor ideia do que será desse mundo em
transformação contínua e radical daqui cinco, dez ou vinte anos, quando
estiverem no mercado de trabalho.
Claramente, não estamos
oferecendo as condições necessárias para que esses jovens se desenvolvam e
sejam pessoas realizadas e integradas a uma atividade que lhes dê dignidade e
propósito de vida no futuro. É o que mostra o Índice Global de Bem-Estar Juvenil.
O ranking, desenvolvido pela International Youth Foundation,
avaliou os desafios e oportunidades de jovens de 30 países nas seguintes áreas:
oportunidades econômicas, educação, saúde, gênero, cidadania, segurança,
tecnologia e comunicação. A principal conclusão: só 11% dos jovens que
participaram da pesquisa experimentam altos níveis bem-estar e abundância de
oportunidades individuais.
O
Brasil foi um dos países avaliados e aparece em 21ª colocação, no terço
inferior do ranking, atrás de países como Quênia e Turquia. Segundo o
relatório, o país apresenta índices contraditórios. Por um lado, o Brasil ocupa
o 10º lugar entre os países com maior percentual de jovens (73%) que acreditam
alcançar, num futuro próximo, uma situação econômica melhor do que a de seus
pais. No entanto, o país figura em primeiro lugar entre as nações com maior
percentual de jovens (93%) para quem seus governantes falham em garantir as
condições mínimas (como educação, saúde, segurança, crescimento econômico) para
que suas aspirações pessoais e profissionais se realizem.
Isso
mostra que nossos jovens são eternos otimistas e têm esperança, o que é muito
bom. Também revela outra coisa importantíssima: que eles têm total consciência
do descompromisso das autoridades do país com a preparação de seus cidadãos e
com a criação e manutenção de um ambiente propício para que surjam
oportunidades consistentes para que eles de fato prosperem.
Eu
tenho muita preocupação com os milhões de jovens que estão fora da escola ou
desempregados. O Brasil tem cerca de dez milhões de brasileiros entre 15 a 29
anos nessa situação, o que representa 22,5% da população nessa faixa
etária. A proporção dos chamados “nem-nem” cresceu 2,5% em relação a
2014. Não podemos nos conformar com essa geração perdida. Acredito que as
carreiras profissionalizantes agora contempladas pela reforma do ensino médio
podem ser uma resposta para esse problema. Precisamos, agora, partir para
concretizar isso.
A
juventude é peça-chave da transformação que queremos viver como nação. São os
jovens que vão protagonizar o nosso futuro. Um país que pretende ser um ator
relevante no cenário mundial precisa olhar para a questão do jovem de frente e
ter um plano para ele. Mais importante ainda: precisa ter uma estratégia boa e
um foco na execução deste plano. Espero que nosso próximo presidente entenda a
real dimensão deste problema e o transforme numa grande oportunidade de
crescimento para o Brasil.
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