BASE CURRICULAR DEVE INCLUIR
O BRINCAR NA
EDUCAÇÃO
INFANTIL, DIZ ESPECIALISTA
O
Brasil deve concluir, ainda neste ano, a terceira versão da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), que embasará os currículos da escolaridade básica, em todos
os estados e municípios. O tema foi debatido no 7º Simpósio Internacional de
Desenvolvimento da Primeira Infância, realizado nesta terça-feira (7). Reunidos
em Fortaleza, especialistas em desenvolvimento de crianças com até 6 anos
disseram que a interação e o brincar precisam ser reconhecidos como eixos
estruturantes da educação infantil.
O texto está
em discussão no Conselho Nacional de Educação (CNE). No caso da educação
infantil, a diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas
Educacionais e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), Claudia Costin,
afirmou que a interação com outras crianças e adultos é fundamental para o
desenvolvimento e que o brincar deve ser pensado com intencionalidade
pedagógica. Isso não elimina a importância da inserção em ambiente letrado. “A
exploração lúdica do mundo deve incluir as expressões escritas e o universo da
leitura”, afirmou Claudia.
Apesar de
parecer habitual, tal perspectiva contrasta com a realidade contemporânea. O
pediatra Daniel Becker, professor do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), observou que as crianças estão
sendo submetidas a apelos de consumo e mesmo a obrigações de desenvolvimento
profissional precocemente. Em contraposição a essa tendência, Becker ressaltou,
porém, que “o brincar talvez seja aquilo que mais vai construir competências”.
O
especialista destacou também o fato de as crianças estarem brincando e
interagindo menos. Como exemplo disso, citou a disponibilização constante de
dispositivos tecnológicos, como smartphones,
para as crianças. “A gente está evoluindo de forma absolutamente explosiva no
uso dos aparelhos, das telas”, disse o pediatra. Ele acrescentou que é preciso
dosar o uso desses equipamentos e valorizar os momentos de vivência com os pais
e em ambientes naturais.
Investimento em
educação
Ex-secretária
municipal de Educação do Rio de Janeiro e diretora global de educação do Banco
Mundial, Claudia Costin convocou os estados a desempenharem papel de liderança
e convocação para a elaboração curricular e para sua posterior
implementação.
Com base em estudo sobre
experiências de efetivação de bases curriculares em diversos países, a
pesquisadora das universidades argentinas Nacional de San Martín e de San
Andrés, Jennifer Guevara, concorda e aponta como um dos desafios para a
concretização de currículos comuns a fragilidade técnica dos órgãos
responsáveis por educação nos municípios, especialmente os menores.
Outros
desafios são a disponibilidade de recursos e o incentivo a professores.
Preocupada com as políticas sociais, Claudia Costin defendeu o investimento na área
e criticou o fato de muitos países de baixa renda ou renda média gastarem
apenas entre 0,1% e 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em pré-escola, o que
ela considera “bem abaixo” do padrão de 1% proposto para o gasto total de
Desenvolvimento na Primeira Infância (ECD, na sigla em inglês). Em contraponto,
Claudia lembrou que alguns países, "em momentos de crise fiscal e
econômica, como o Japão do pós-guerra, investiram mais em educação, porque
achavam que tinham que formar bem uma nova geração”.
Claudia disse
que o Brasil tem o dever de assegurar educação inclusiva, equitativa e de
qualidade e de promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para
todos, já que este é um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS),
metas fixadas pelas Nações Unidas e ratificadas pelo país. Nesse sentido, ela
criticou a proposta de emenda à Constituição que estabeleceu um teto para os
gastos públicos para os próximos 20 anos.
Diante do
quadro de restrição orçamentária, Claudia Costin ressaltou que é preciso desenvolver
estratégias para redução de custos, como baratear a aquisição de materiais, e
priorizar famílias mais pobres e faixas etárias específicas, como a que se
inicia aos 2 anos de idade. Para a especialista, o mais difícil, mas também
imprescindível, é a valorização da carreira docente. “O professor precisa ter
uma carreira atraente para que se atraiam cada vez mais talentos para a
profissão. Não adianta inaugurar creche se não tiver trabalho com as crianças.”
Além do
papel dos entes governamentais, os especialistas enfatizaram também o papel de
pais e mães na educação. Além de orientar escolas e professores, a base
curricular permitirá às famílias participar e acompanhar mais de perto a vida
escolar dos filhos. Para tanto, é preciso compreender que a educação é uma
tarefa que deve ser compartilhada, ressaltou Daniel Becker. O pediatra lembrou
que a escola tem ficado sobrecarregada diante da ausência da família na
educação da criança.
O 7º
Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância é organizado
pelo Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), articulação formada pela Fundação
Maria Cecilia Souto Vidigal, pelo Center on the Developing Child da
Universidade de Harvard, pelo Insper, David Rockefeller Center for Latin
American Studies da Universidade de Harvard, pela Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo e pelo Hospital Infantil Sabará.
*A
repórter viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-11/base-curricular-deve-incluir-o-brincar-na-educacao-infantil-diz-especialista
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