Filósofo Olavo de Carvalho gerou debate ao mencionar dado na Brazil Conference, em Harvard RODOLFO BUHRER GAZETA DO POVO |
Nem 1%, nem 80%: a real
taxa de analfabetismo funcional entre universitários
Estudos
recentes sobre o assunto apresentam número bem menor do que o mencionado por
Olavo de Carvalho, mas o cenário geral é muito ruim
Em abril, durante a Brazil Conference, em Harvard, o
filósofo Olavo de Carvalho afirmou que 80% dos formandos de universidades
brasileiras são analfabetos funcionais. Ao final, ele foi contestado por uma
integrante da plateia, que apresentou um dado muito diferente: o índice entre
os universitários seria de apenas 1%. Objetivamente, quem está certo? A
resposta curta é esta: nenhum dos dois.
De
forma geral, o analfabetismo funcional costuma ser definido como a incapacidade
de compreender e interpretar textos ou fazer operações matemáticas com um grau
mínimo de complexidade.
Hoje,
as avaliações que medem os graus de analfabetismo incluem quatro ou cinco
categorias (geralmente divididas entre analfabetismo total e níveis como
alfabetização rudimentar, básica, intermediária e proficiência). Somente as
duas primeiras categorias são consideradas analfabetismo funcional.
O
Instituto Paulo Montenegro, que é referência no assunto e mede regularmente o
nível de alfabetização dos brasileiros, sustenta que 4% dos que cursam ou
cursaram uma faculdade são analfabetos funcionais. O percentual na
população geral fica em 27%.
Pelo
último levantamento do instituto, divulgado há um ano, o índice de
analfabetismo funcional não se aproxima dos 80% mesmo entre os que não passaram
dos anos iniciais do ensino fundamental: a taxa é de 68%.
Outras
pesquisas também não chegam aos 80%, embora apresentem um quadro preocupante.
Em 2012, um levantamento feito pelo professor Afonso Celso Tanus Galvão, da
Universidade Católica de Brasília identificou um índice de analfabetismo
funcional ligeiramente maior do que 50%. O estudo, entretanto, foi feito apenas
com alunos de quatro faculdades do Distrito Federal.
Uma
forma alternativa de analisar o problema é olhar para as pesquisas que medem o
analfabetismo na população brasileira como um todo. O número costuma ficar
abaixo dos 30%. É o caso do Censo de 2010.
A
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) não faz essa
medição com regularidade no Brasil, mas um relatório da entidade menciona que,
em 2000, antes de uma melhoria considerável nos índices, 75% de todos os
brasileiros (não só os universitários) eram analfabetos funcionais. Como
os universitários são mais instruídos do que a média da população, os números
de Olavo de Carvalho parecem não bater.
Por
outro lado, o Instituto Paulo Montenegro identificou que apenas 22% dos
universitários ou graduados são proficientes em leitura. Uma matemática
simples leva à conclusão de que quase 80% dos universitários brasileiros não
atingiram o nível ideal de alfabetização. Isso é diferente da definição
clássica de analfabetismo funcional. Mas, como os números evidenciam, a
situação é ruim.
Outro
sinal de alerta do Instituto Paulo Montenegro é a constatação de que o grau de
proficiência da população brasileira tem permanecido estável nos últimos anos,
mesmo com a queda nos níveis de analfabetismo total e funcional.
O
professor Galvão enfatiza que, por causa da pequena amostragem, é impossível
tirar conclusões abrangentes da pesquisa que conduziu na Universidade Católica
de Brasília. Mas ele destaca que os números são preocupantes. “O que os
resultados preliminares sugerem é que, dependendo do conceito de analfabetismo
funcional com o qual se opera, os resultados podem ser bem mais dramáticos”,
disse ele à Gazeta do Povo.
Para
resolver um problema é preciso identificá-lo com precisão. O grau de
analfabetismo funcional entre universitários brasileiros não chega a 80%. Mas
não há como negar que o cenário é muito ruim.
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