Colégio Estadual Chico Anísio, em Andaraí, zona norte do Rio, é referência em aplicação de competências socioeconômicas (habilidade de tomar decisões, trabalhar em equipe, etc) nos currículos da escola. Na foto, o Diretor do colégio, Wilman Costa(C), e as alunas Isabel Pacheco(E) e Anna Beatriz Oliveira (D), do segundo ano do Ensino Médio. Foto: Marcos Arcoverde/Estadão
Pesquisa da Fundação Catar mostra que até 2030 as escolas vão focar nas demandas dos alunos, e professores se tornarão tutores.
Computadores e tablets estarão mais presentes na vida de
professores e estudantes do que lousas e apostilas. Até 2030, a maior
parte do ensino será personalizada, ou seja, vai acompanhar o ritmo e os
interesses de cada aluno. Aulas online serão mais importantes do que as
presenciais. Essas são apostas para a educação do futuro de 645
especialistas ouvidos por pesquisa do World Innovation Summit for
Education (Wise), da Fundação Catar.
O levantamento, que será lançado nesta semana e foi obtido com
exclusividade pelo Estado, reuniu opiniões de experts de todos os
continentes. No estudo, 93% dos pesquisadores apontam que a inovação -
social, tecnológica e pedagógica - será a chave para o avanço
educacional nos próximos anos, com mudanças estruturais significativas
no papel do governo, da escola, dos professores e dos alunos.
Na educação do futuro, as escolas terão formatos híbridos, usando
plataformas online e espaços físicos onde ocorram as interações sociais
entre estudantes. O professor, nesse modelo, deixará de ser peça central
na aprendizagem para se tornar o mediador do processo de aquisição de
conhecimento, segundo 73% dos especialistas.
A tecnologia será fundamental, mas apenas distribuir os aparelhos
não basta, destaca o trabalho.
Para serem incorporados, os dispositivos
deverão ter propósitos claros para melhorar o ensino.
No Brasil, experiências inovadoras de ensino, que enfocam a
educação personalizada e o professor como tutor, já estão sendo
aplicadas, tanto nas redes particulares quanto públicas. O problema,
contudo, é reproduzir esses modelos - ainda pontuais - em larga escala,
de acordo com especialistas ouvidos pelo Estado. Entre os desafios,
estão a fragmentação das políticas educacionais, a falta de estrutura e a
dificuldade para que os professores, na maioria formados na perspectiva
mais tradicional, se adaptem às constantes transformações.
Entre as previsões feitas pelo Wise, está a predominância, no
futuro, das competências socioemocionais, que envolvem questões pessoais
e interpessoais, como responsabilidade e estabilidade emocional, por
exemplo. Segundo os especialistas, a intimidade com cálculos ou
memorização de datas históricas dizem pouco sobre o aluno.
A maioria também não acredita que todos devam aprender os mesmos
conteúdos ao mesmo tempo. 83% deles afirmam que o currículo terá
parâmetros básicos, mas será moldado de acordo com o perfil e o ritmo de
progressão de cada estudante.
Além dos livros. Um dos exemplos brasileiros de
foco nas competências socioemocionais é o Colégio Estadual Chico Anysio,
no Rio de Janeiro. A unidade, inaugurada em 2013, faz parte de um
projeto da Secretaria de Educação fluminense e o Instituto Ayrton Senna.
A escola tem jornada integral no ensino médio, mas sem conteúdo
profissionalizante. Os eixos da formação envolvem trabalho, convívio,
aprendizagem e autonomia.
"Temos projetos de pesquisa, em que somos protagonistas", conta
Anna Beatriz Figueiredo, de 17 anos, aluna do 2º ano do ensino médio do
Chico Anysio. A jovem, que antes estudava em um colégio público
convencional, percebe a diferença entre os modelos. "Antes, eu estava em
uma condição passiva, sem muita voz", lembra.
De acordo com Anna Beatriz, o trabalho com essas habilidades ajuda
tanto nas disciplinas básicas quanto fora da escola. "Essa bagagem se
reflete na forma como lidamos com as críticas e os desafios", diz ela,
que está no colégio desde o ano passado. "Meus pais perceberam a
diferença na minha postura".
Willmann Costa, diretor da unidade, explica que o objetivo é
interligar os conhecimentos e desfazer as barreiras entre professores e
alunos. "É um modelo de currículo atrativo, mais próximo da juventude",
destaca.
Âncora. O modelo menos conteudista também é
adotado no Projeto Âncora, que tem uma escola localizada em Cotia, na
Grande São Paulo. Com turmas mistas, compostas por crianças e
adolescentes de várias idades, a proposta da instituição é que os
estudantes aprendam uns com os outros.
Na escola, o currículo não é engessado, mas formatado a partir do
interesse dos estudantes. "Cada um aprende no seu ritmo. Não preciso
aprender ao mesmo tempo que o meu colega", afirma a aluna Giulia
Jacobete, de 14 anos.
Fabio Zsigmond, educador e diretor do projeto explica que os alunos
aprendem os conteúdos curriculares enquanto desenvolvem seus projetos.
“O aluno se planeja para desenvolver o que ele tem interesse, como um
livro, por exemplo. E a partir daí ele aprende os objetivos
curriculares”, explica. “Não é de forma cronológica, separado por
disciplina e alunos por idade, mas de uma forma orgânica.”
No Âncora, o professor é um mediador do caminho de aprendizagem do
aluno. “Não é necessário ele ficar falando sobre um conhecimento que já
está disponível nos livros ou na internet”, afirma Zsigmond. “É mais
produtivo ele propiciar uma discussão e fazer uma reflexão.”
Fonte: http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,educacao-do-futuro-sera-personalizada-e-hibrida-imp-,1575897
Acesso em: 20 jan. 2018.
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