Aquela fase odiada pela maioria das
pessoas, a adolescência, ganhou uma sobrevida de cinco anos. Em vez de
terminar aos 19, idade considerada na maioria dos países, um grupo de
cientistas defende que a adolescência se estende dos 10 até os 24 anos.
O
fato de jovens estarem optando por estudar por um período de tempo mais
longo, não só até a faculdade, assim como a decisão cada vez mais
frequente de adiar casamento e maternidade/paternidade, estariam mudando
a percepção das pessoas de quando a vida adulta começa, dizem
pesquisadores australianos em um artigo publicado nesta semana na
revista científica Lancet Child & Adolescent Health.
Para
eles, a redefinição da duração da adolescência seria essencial para
assegurar que as leis que dizem respeito a esses jovens continuassem
sendo asseguradas.
Outros especialistas, no entanto, dizem que postergar o fim da adolescência pode mais adiante infantilizar os jovens.
Puberdade
A
duração da adolescência já chegou a ser alterada antes, quando se
concluiu que, com os avanços da saúde e da nutrição, a puberdade
iniciava antes do 14 anos, como se convencionava.
Essa fase tem
início quando uma parte do cérebro, o hipotálamo, ativa as glândulas
hipófise e gônadas, que, entre outras coisas, liberam hormônios sexuais.
Ela costumava acontecer por volta dos 14 anos, mas caiu
gradualmente no mundo desenvolvido nas últimas décadas até o patamar de
10 anos.
Como consequência, em países industrializados como o
Reino Unido a idade média para a primeira menstruação de uma garota caiu
quatro anos nos últimos 150 anos.
Metade das mulheres agora fica menstruada pela primeira vez entre 12 e 13 anos.
A
biologia também é usada como argumento por aqueles que defendem que a
adolescência termina mais tarde - e que dizem, por exemplo, que o corpo
continua a se desenvolver.
O cérebro continua se desenvolvendo
depois dos 20 anos, trabalhando de maneira mais rápida e eficiente. E
para muitos os dentes do siso não nascem até que complete 25 anos.
Adiando planos familiares
Os mais jovens também estão adiando o casamento e a maternidade/paternidade.
De
acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unidos, a
idade média para o primeiro casamento de um homem era 32,5 anos em 2013 e
de 30,6 para as mulheres na Inglaterra e no País de Gales. Isso
significa um aumento de 8 anos desde 1973.
No artigo que explica
os motivos para o aumento da duração da adolescência, Susan Sawyer,
diretora do Centro para a Saúde do Adolescente do Hospital Royal
Children's em Melbourne, na Austrália, escreve: "Apesar de muitos
privilégios legais da vida adulta começarem aos 18 anos, a adoção das
responsabilidades e do papel de adulto geralmente acontece mais tarde".
Ela
diz que postergar o casamento, o momento de ter filhos e a
independência financeira significa "semidependência", o que caracteriza
que a adolescência foi estendida.
No Brasil, a permanência por
cada vez mais tempo dos jovens na casa dos pais é uma marca da chamada
"geração canguru", nome dado pelo IBGE em 2013 ao fenômeno que engloba
pessoas de 25 a 34 anos e que vem crescendo no país. Os dados foram
divulgados na Síntese de Indicadores Sociais - Uma análise das condições de vida da população brasileira, com dados referetes ao intervalo entre 2002 e 2012.
Mudança nas leis
Essa
mudança, pondera Sawyer, precisa ser levada em consideração pelos
políticos, para que as leis e benefícios voltados a esse público sejam
alterados.
"Definições de idade são sempre arbitrárias, mas nossa
atual definição de adolescência está excessivamente restrita", diz a
cientista.
Russell Viner, presidente da associação Royal College
de pediatria e saúde infantil, diz que no Reino Unido a idade média para
um jovem sair de casa é 25 anos. Ele apoia a ideia de que a
adolescência seja estendida até os 24 anos e diz que os serviços no
Reino Unido já levam isso em conta.
Segundo ele, hoje as leis no
Reino Unido consideram a idade de até 24 anos para o governo garantir a
provisão de serviços para crianças e adolescentes que precisam de
atendimento especial (seja por abandono ou outro motivo) e que têm
necessidades especiais em termos educacionais.
Infantilizar os adultos
A
socióloga da Universidade de Kent Jan Macvarish, que estuda
paternidade, diz que há um perigo em estender o conceito de
adolescência.
"Crianças mais velhas e jovens são moldados de
maneira mais significativa pelas expectativas da sociedade sobre eles
com o seu intrínseco crescimento biológico", ela diz.
"Não há nada
necessariamente infantil em passar o início dos seus 20 anos no ensino
superior ou tendo experiências no mundo do trabalho." E não deveríamos
arriscar transformar o desejo deles por independência em uma patologia.
"A sociedade deveria manter as expectativas mais altas em relação à
geração seguinte", diz Macvarish.
Viner discorda dela e diz que
ampliar a adolescência pode ser visto como dar poder aos jovens ao
reconhecer as diferenças deles.
"Contanto que isso seja feito de
uma posição de reconhecimento dos pontos fortes dos jovens e do
potencial do desenvolvimento deles em vez de focar os problemas da
adolescência."
*Com reportagem de Katie Silver, da BBC News.
Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/geral-42747453
Acesso: 22 jan. 2018.
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