AS VERDADEIRAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
Pesquisador reúne em livro as experiências
mais inovadoras em educação do mundo
Como é a
escola do século
XXI? Se, em teoria, todas as escolas do presente
deveriam ser consideradas exemplos, a realidade nos mostra um quadro bastante
diferente diante da quantidade de instituições ainda baseadas em velhos
paradigmas e que parecem ter parado no tempo.
Voltando à pergunta, os últimos avanços tecnológicos, as
descobertas da neurociência e teorias pedagógicas de vanguarda certamente
estariam envolvidos no processo de ensino e aprendizagem das “escolas do século
XXI”, mas o que mais?
Motivado por essa pergunta, em 2013, o psicólogo e
pesquisador espanhol Alfredo Hernando Calvo fez as malas e, durante nove meses,
rodou o mundo visitando experiências educacionais
inovadoras, uma jornada que lhe rendeu 80 exemplos de 21 países e todos os
continentes.
“Era uma ideia que eu tinha há anos, pois na Espanha
vinha trabalhando em projetos para ajudar a melhorar os resultados educacionais
de escolas e, por isso, estava sempre pesquisando experiências pelo mundo”,
conta Calvo.
Da viagem empreendida pelo pesquisador nasceu o livro Viagem
à escola do século XXI – Assim trabalham os colégios mais inovadores do mundo,
viabilizado pela Fundação Telefônica Vivo e disponível para download
gratuito.
Entre os espaços selecionados, escolas cujos currículos estão baseados em jogos e
nos princípios de aprendizagem em projetos, comunidades de aprendizagem,
escolas que deram aos professores papéis
que vão além da transmissão de informação e pensaram novas formas de avaliar e
estimular seus estudantes.
Para fazer a seleção, Calvo seguiu três critérios
principais. “Um deles foi buscar escolas com um histórico de êxito documentado,
escolas que haviam melhorado os indicadores nos últimos anos. O segundo
critério foi buscar as escolas pioneiras, isto é, aquelas com metodologias
vanguardistas, as primeiras a falar de múltiplas inteligências, TICs
[Tecnologias de Informação e Comunicação], etc. E, depois, busquei trabalhos
replicáveis, que poderiam inspirar outras iniciativas”.
Uma das experiências visitadas, por exemplo, foram as
escolas The Barefoot College, localizadas na Índia, e que ele mesmo define como
a “escola que menos se parece com uma escola”. Isto porque no colégio não há
provas ou certificados e os professores não possuem títulos universitários.
Ali, duas grandes perguntas norteiam tudo que é ensinado: “o que precisamos
aprender?” e “como queremos aprender?”.
Já do outro lado do mundo, em San Diego, nos Estados
Unidos, a High Tech High aposta na integração do conhecimento teórico com a
prática. As salas e os horários não são criados para ser organizados em
matérias fechadas e em grupos de diferentes níveis de dificuldade, mas sim em
projetos com sentido.
Apesar de oriundas de contextos diversos, é possível
apontar aspectos comuns entre as escolas do século XXI de Calvo. “Esses
colégios são muito distintos do que nós compreendemos como uma “escola normal”,
ou seja, aquela história das carteiras enfileiradas na sala. Porém, se parecem
muito entre si: possuem muitas ferramentas abertas para trabalhar com os
alunos”, conta.
Outro aspecto observado por Calvo nesses espaços foi que
nem todos os alunos estavam, necessariamente, fazendo as mesmas coisas da mesma
maneira ou no mesmo momento. Em outras palavras, havia uma liberdade e um respeito
aos ritmos de aprendizagem individuais. Trabalho colaborativo entre
professores, funcionários e estudantes e mais autonomia aos alunos também
apareceram como tendências.
“A boa notícia é que há muitas coisas interessantes
acontecendo mundo afora. Vemos muitos estudos, como o PISA, que dão a impressão
de que tudo vai mal, mas há escolas pioneiras que estão fazendo um ótimo
trabalho”, diz.
Com a publicação e a possibilidade de consultar
gratuitamente o livro, o pesquisador espera que outras escolas de outros
contextos possam se inspirar para construir uma educação cada vez melhor.
“Escrevi o livro para que outras pessoas possam se beneficiar dessa viagem,
buscar motivação, aprender com essas práticas e, assim, replicá-las”, conta.
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