por Thales de Menezes
Quem acha que as obras
infantis antigas não têm ritmo para atrair a garotada de hoje, ligada em
videogames, pode mudar de ideia com a leitura de "As Aventuras de
Pinóquio", que chega às livrarias na próxima quarta-feira.
Traduzida do texto original
de Carlo Collodi (1826-1890) pelo celebrado Ivo Barroso, a narrativa é
delirante. "É um livro delicioso", diz o tradutor. Ele exalta a
descrição do interior do peixe-cão, a "baleia" que engole Gepeto, o
criador de Pinóquio.
"Eu faço uma comparação
com o Júlio Verne de 'Viagem ao Centro da Terra' e '20 Mil Léguas Submarinas'.
Collodi tem uma imaginação incontrolável", afirma Barroso.
Para ele, a famosa adaptação
animada dos estúdios Disney não explora nem 10% do livro. "Essa e outras
versões que eu conhecia procuram facilitar a leitura, mas desfiguram o estilo e
deixam de aproveitar as aventuras que o original apresenta."
Já nas primeiras páginas, a
mágica se espalha, sem freios. Mal Gepeto cria o boneco, Pinóquio já foge para
as ruas e encontra pessoas que conversam com um brinquedo de madeira sem
nenhuma estranheza.
Muita coisa acontece, com
diferenças gritantes em comparação à história popularizada no cinema (leia ao
lado).
Logo no começo, Gepeto vai
para a cadeia por culpa de Pinóquio, personagem nada fofinho. Nas mais de 300
páginas, o boneco vai exibir muita ganância e egoísmo até virar um bom menino.
A enorme quantidade de ação
em cada página ditou o estilo do artista Alex Cerveny para o trabalho.
"Deixei a intuição dominar. As ilustrações têm muito de rabiscos, surgiram
do que eu ficava rabiscando enquanto lia", diz.
Se os desenhos nasceram do
ritmo vertiginoso da narrativa, as versões finais que aparecem no volume da
Cosac Naify seguem a sofisticação gráfica típica da editora.
Usam a técnica "cliché
verre", do final do século 19. Uma placa de vidro é chamuscada com uma
vela, e o desenho do papel é copiado nela com um objeto pontiagudo. Daí, as
imagens podem ser digitalizadas direto do vidro.
Com tanto apuro visual e a
tradução que acompanha a força narrativa do original, o livro não é só para
crianças. "É um clássico para qualquer idade", defende Barroso.
"Pinóquio" é a
mensagem de que todos os meninos podem ser bons. Mas é muito mais literatura do
que isso.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/12787-pinoquio-retorna-no-ritmo-frenetico-do-texto-original.shtml
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