Resenha do filme:
Sociedade dos poetas mortos
Sinopse:
Em 1959 o ex-aluno John Keating retorna a tradicional escola
preparatória, Academia Welton, nos EUA, como professor de literatura. Em uma
escola tradicionalista, que valoriza essencialmente o ensino da gramática e do
raciocínio lógico-matemático, o ex-aluno irá apresentar métodos pouco ortodoxo.
Ficha técnica:
Diretor: Peter Weir.
Gênero: Comédia dramática.
Ano de lançamento: 1990.
Nacionalidade: Estados Unidos.
Elenco: Robin Williams, Ethan Hawke, Robert
Sean Leonard.
Uma educação para o livre pensamento:
Academia Welton é uma escola americana com cem anos de tradição no
ensino preparatório para as áreas da medicina, direito e engenharia. A escola
toma a tradição, a honra, a disciplina e o mérito como seus pilares
fundamentais. Em tal cenário, a literatura, a arte e a poesia dispõe de pouco
espaço, relegadas para segundo plano.
No início do filme, no 2º minuto, há uma cena que ilustra o método
tradicionalista da escola, um professor estende ao aluno uma vela acessa, este
acende sua vela e repassa para seus colegas. Tal ação, embora simples revela
uma concepção de educação especifica e clara, o professor é aquele que detém o
conhecimento, e o aluno, aquele que tem de seu apenas a capacidade para a
aprendizagem.
A vinda ex-aluno, o professor John Keating, criará uma tensão entre os
modelos de ensino tradicional e não-ortodoxico. Em oposição ao modelo de ensino
em vigor, Keating cria situações distintas para estimular a aprendizagem. O
professor sai dos arautos do conhecimento e deseja caminhar entre os alunos.
Educação e Carpe diem:
Uma escola é essencialmente um ensino que pensa o futuro, o presente não
importa, sua importância é secundária, serve apenas como material de manobra aos
sonhos do amanhã.
John Keating convida os alunos para o acompanhar até o Hall de estrada
da escola, aonde se encontra pendurado nas paredes fotos de alunos veteranos.
Em tom provocativo John pergunta, qual ensinamento os alunos veteranos vos
deixam? Os ex-alunos, já formados, ensinam a aproveitar o dia. É preciso que o
jovem saiba viver o seu próprio tempo, sua própria infância. As preocupações do
amanhã não podem suplantar as brincadeiras, risos e traquinagens de hoje.
É preciso pensar uma educação que não sufoque a criança com as
preocupações do futuro. O aluno precisa ter a liberdade de poder viver a
própria infância, com seus dramas e potencialidades.
No minuto 26 John Keating profere: “Medicina, Direito e Engenharia são
ambições nobres e necessárias para manter a vida, mas poesia, beleza, romance,
amor, é para isso que ficamos vivos. Citando Walt Whitman: “- Oh vida repleta
de perguntas repetidas, de intermináveis filas de incrédulos, de cidades cheias
de tolices, qual a melhor delas? Oh eu! Oh vida! Resposta: Que você esta aqui,
que existe vida e identidade. Que a poderosa
peça continua e você pode escrever um verso. Qual será seu verso?”
Educação tradicional e o livre pensamento:
A educação tradicional tem por ambição formar autômatos, deseja que os
alunos disponha amplo e vasto conjunto de dados e informações, sabendo quando
Dom Pedro Segundo nasceu, e quando declarou a independência do Brasil; que não
comete erros gramáticas, sabendo corretamente todas conjugações do verbo
“consumir”; que executa as tarefas com precisão e habilidade padrão, sem margem
para erro ou criatividade; que conhece todas as fórmulas matemáticas, da área
de um circulo à Quadrática.
No minuto 27 o professor John é repreendido por um de seus colegas,
professor MacAllister: “- O senhor se esforça para criar artistas, mas quando
eles perceberem que não são um Rembrandt, Shakespeare ou Mozart, vão odiá-lo
por isso.” John: “- Não estamos formando artistas, mas livres pensadores.”
A preocupação do professor John é diversa da escola tradicional, mais do
que formar autômatos, a preocupação por excelência da educação, na sua visão, é
formar pessoas capazes de pensar. Para além de executar ordens e procedimentos,
a educação deve focar seus esforços em potencializar a capacidade criativa e
crítica dos alunos.
É válido lembrar da experiência nazista do século passado. Hitler
dispunha dos melhores técnicos do século XX, mas de nenhum pensador, qual o
resultado: os técnicos alemães souberam criar toda forma de dispositivo para
eliminar a vida humana que a razão consegue imaginar, mas nenhum técnico pensou
se era desejável eliminar a vida humana.
A sociedade dos poetas mortos:
Os alunos do professor John encontram o livro do ano da sua formatura,
dentre algumas informações sobre o então aluno, consta a sua participação na
“Sociedade dos poetas mortos”, informação que instiga a curiosidade dos jovens,
levando-os a pedir maiores detalhes ao próprio professor.
A “Sociedade dos poetas mortos” era a reunião de alguns jovens amantes
da poesia que se reunião em um lugar ermo, distante das tradições da Academia
Welton, para ler poesias, além de outras manifestações artísticas. Aos olhos
dos seus membros, tal sociedade estava destinada a sugar toda a essência da
vida. Nos termos do professor John: “No encantamento da ocasião, deixávamos a
poesia exercer a sua magia. Não éramos uma organização grega, éramos
românticos. E não líamos só poesia, deixávamos ela pingar de nossas línguas
como mel, os espíritos pairavam, mulheres desmaiavam e deuses eram criados.
Citando o poeta Thoreau: Eu fui para floresta porque queria viver
deliberadamente, eu queria viver profundamente e sugar toda a essência da vida.
Acabar com tudo que não fosse vida, para que quando a minha morte chegasse eu
não descobrisse que não vivi.”
Livre pensamento e outros ângulos possíveis:
A característica principal do livre pensamento é a liberdade de pensar o
mundo que nos rodeia sobre outros ângulos, perspectivas e conceitos, a
liberdade de experimentas as mais diversas possibilidades, sem receio ou
preconceito. A exemplo de Copérnico, enquanto que todos entendiam que a Terra
estava parada e os astros giravam sem eu entorno, Copérnico mudou o angula da
visão e experimento a possibilidade de deixar os astros parados e dar movimento
a Terra.
Para ensinar os alunos a mudarei o ângulo da visão, John Keating propõe
uma dinâmica inusitada, solicita aos seus alunos que subam sobre as suas
carteiras e observem a sala de aula sobre outro ângulo. John: “Vocês precisam
constantemente mudar o ângulo da visão, tentando ver o mundo por outras
categorias, ângulos e conceitos. Quando você pensar que sabe alguma coisa, mude
o ângulo da visão.”
A leitura é um diálogo com o autor:
A leitura de um livro pode ocorrer por dois motivos, prazer e
conhecimento. Quando estamos diante de um livro de poemas (ou outro tipo de
literatura) não estamos preocupados com o conhecimento que podemos extrair dele
(embora ele possa ser uma fonte significativa de conhecimento), a preocupação
por excelência é com o deleite da leitura. Quando estamos diante de um livro
sociologia (ou outro tipo de literatura técnica) a preocupação por excelência é
com o conhecimento, mesmo que em muitos casos a leitura seja árida e cansativa.
A leitura técnica pode ser feita tendo a sua disposição dois métodos, o
exame e o diálogo. No primeiro caso, o leitor examina e disseca as principais
idéias do livro, tentando descrever a estrutura lógico-conceitual do qual o
autor faz uso. No segundo caso, embora seja precedida de um exame atento, o
leitor toma o autor como um interlocutor, com quem pode estabelecer um intenso
diálogo. Nesses termos, mais do que apenas analisar as idéias do autor, a
leitura se torna um diálogo entre idéias que, em certa medida se convergem e em
outros se divergem.
Nesses termos, Keating solicita que um de seus alunos leia o capítulo de
introdução, Compreendendo a poesia, de Evans Print: “Para entender
perfeitamente a poesia, precisamos avaliar sua métrica, rima e figura de
linguagem. Depois fazemos duas perguntas: a) como foi apresentado o objetivo do
poema; b) o quão importante é este objetivo. A pergunta 1 avalia a perfeição do
poema, a pergunta 2 a sua importância. E depois que estas perguntas são respondidas
torna-se muito fácil determinar a grandeza de um poema. Se o índice de
perfeição do poema for colocado na horizontal de um gráfico e sua importância
for marcada na vertical, então calculamos o total da área do poema e teremos a
medida de grandeza.” Em uma leitura de exame, caberia aos alunos tomarem notas
das ponderações de Print e posteriormente aplicar o método estabelecido pelo
autor no conjunto de poemas que seguem no livro, Keating por sua vez, faz a
opção pelo diálogo com o autor, o que lhe confere liberdade de discordar e
divergindo do método apresentado. Aos olhos de Keating, o método apresentado
distorce a poesia, entende ele que o deleite da leitura de um poema não pode
ser quantificado ou mensurado, não se pode medir a grandeza de um poema como se
mede a área de uma folha de papel.
Uma educação para o livre pensamento deve estimular mais o diálogo com o
autor do que uma leitura de exame e dissecação, nos termis do professor Keating:
“Quando lerem, não considerem apenas o que o autor acha, mas o que vocês
acham.”
Uma educação provocativa e desafiadora:
Uma educação para a liberdade e o livre pensamento deve ser uma educação
provocativa e desafiadora, que coloca o aluno a todo momento numa situação de
desconforto.
É sábio o conselho que nos orienta a prestar mais atenção naquele que
nos critica com sabedoria e ponderação do que aquele que nos enche de elogios
efêmeros. Igualmente, na educação, o professor que educa para a liberdade é
aquele que desafia e exige o máximo das faculdades do aluno, enquanto o
professor condescendente aceita passivamente o fracasso e a limitação educa
para a “escravidão”.
Keating, em seu ímpeto provocativo, desafia o tímido Todd Anderson a
declamar um poema na frente da classe, constrangendo-o a se exceder. Todd
reluta, o medo, a timidez e a descrença em si mesmo são maiores que sua vontade
de se superar, deixando-o imerso em agonia. Inspirado no poema: “Eu faço tinir
meu brado bárbaro sobre os telhados do mundo” (WW), Keating solicita a Todd que
dê uma demonstração de um brado bárbaro, abrindo margem para o aluno recitar
seu poema: “Um louco, desvairado e sonhador, com um olhar que golpeia a minha
mente, suas mãos esticam, me sacodem. Esta sempre murmurando a verdade. A
verdade é como um cobertor que sempre deixa os pés desassistidos. Você puxa,
estica, mas ele nunca vai dar, você chuta, bate e ele nunca cobre ninguém, e
desde o momento que chegamos chorando até o momento que partimos morrendo ele
só vai cobrir o seu rosto enquanto geme e chora e grita.”
Educação e a conformação:
O professor Keating solicita que três alunos comecem a andar em volta da
quadra. Inicialmente eles começam de forma desordenada, em ritmos
descompassados, em trajetória diversas, na medida em que prosseguiam no
percurso, começaram a se coordenar, assumindo um mesmo ritmo numa mesma
trajetória. Com essa dinâmica o professor tentou ilustrar como os alunos, que
iniciaram andando cada um a seu modo, aos poucos se conformaram num mesmo ritmo
e trajetória. Keating: “Não coloquei-os aqui para ridicularizá-los, coloquei-os
para ilustrar a questão da conformidade. A dificuldade de manter suas próprias
convicções diante dos outros. Todos nos temos a necessidade de aceitação, mas
devem acreditar que suas convicções são únicas, são de vocês, mesmo que os
outros achem estranhas ou impopulares, mesmo que o rebanho diga: - É ruim! Eu
quero que encontrem os seus próprios passos agora, a sua maneira de caminhar,
de andar, qualquer direção. Que seja orgulhosa, que seja boba. Qualquer coisa
cavalheiros, o pátio é de vocês!” Dito isso, o professor liberou os alunos a
andarem em seus próprios termos. Sendo surpreendido pelo aluno Dalton, que se
escorando a uma pilastra ficou parado. Interpelado pelo professor, o aluno
declarou estar exercitando o seu direito de não andar.
Educação e a inovação:
A conformidade e o tradicionalismo na educação é mais comum do que possa
parece. A criatividade e a inovação rapidamente é sufocado pelos olhares de
reprovação e desconfiança. Keating, por sua vez, não teve tratamento diverso, a
desconfiança e a reprovação acompanharam com zelo suas iniciativas.
Após um inconveniente com um dos alunos, Keating é chamado para uma
conversa informal. “Diretor: Estou ouvindo boatos John sobre métodos
heterodoxicos de ensino na sua turma. Não estou dizendo que isso tem haver com
a atitude do senhor Dalton, mas acho que não preciso avisá-lo que rapazes na
idade dele são muito impressionáveis. O que estava acontecendo no pátio outro
dia, em que os rapazes estavam marchando e batendo palmas? Keating: Era um
exercício para provar uma questão. Os perigos da conformidade. Diretor: Jonh, o
currículo foi determinado, foi provado, funciona. Se você o questiona o que
fazer para impedir que eles façam o mesmo? Keating: Acho que a idéia da
educação é aprender a pensar por si só. Diretor: Na idade desses rapazes? De jeito
nenhum! Tradição, Disciplina. Prepare-os para a faculdade que o resto aparece
sozinho.”
O livre pensamento e o reconhecimento da autoridade:
Após a conversa com o Diretor o professor conversa com o aluno Charlie
Dalton, lhe chamando a atenção para a os riscos de sua atitude. Keating: O
senhor realizou uma brincadeira idiota hoje. Charlie Dalton: Estas do lado do
senhor Nolan (o Diretor)? E quanto ao carpe
diem e sugar toda a essência da vida? Keating: Sugar toda a essência da
vida não significa cometer uma gafe. Há hora para ousadia, e hora para cuidado.
E o homem sábio entende sempre quando. E ser expulso do colégio não é ousadia, é
estupidez.
O diálogo entre o professor Keating e o aluno Dalton é significativo, Keating
propõe uma educação para a liberdade, mas liberdade não deve ser confundida com
licença para fazer o que lhe apraz. O homem sábio deve ter a capacidade de
perceber até aonde vai o exercício da liberdade e aonde começa a estupidez.
Immanuel Kant, filósofo alemão do século XVIII talvez possa nos dar alguns insite para resolvermos esta questão.
Kant fazia uma distinção entre “uso da razão em âmbito público” e “uso da razão
em âmbito privado”.
O uso da razão em âmbito público, o individuo tem a liberdade de
criticar e se indispor com as idéias de seus superiores, professores ou
líderes, chamando-lhes a atenção para seus erros, inconsistências ou negligências,
enquanto isso, o uso da razão em âmbito privado constrange o individuo a
respeitar a autoridade constituído, cumprindo suas ordens e designações. Na
forma de um exemplo, o professor Keating discordava da escola em sua concepção
de educação e seus métodos, e portanto não se escondeu ou se acovardou,
levando-o em momentos oportunos a criticar a escola, não obstante as criticas,
Keating em momento algum desrespeito a autoridade constituída, sendo polido em
suas críticas e cumprindo as exigências da escola.
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