Era uma vez...


—        Era uma vez um macaquinho que passou em frente de uma barbearia e viu um homem fazendo a barba.
—        Barbeiro, corte meu rabo!
Risos. E o silêncio se fez, interrompido somente pela minha voz:
—        Barbeiro, me dê meu rabo, o rabo que Deus me deu...
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Certa vez, por motivo do estágio na universidade, tive que dar três aulas para uma turma da segunda série do ensino fundamental, falando-lhes sobre a importância de cuidar do meio ambiente. Era minha primeira experiência com crianças em sala de aula, para muitos é algo comum, mas para mim, confesso ter sido uma experiência assustadora. Entrei na sala e logo percebi que não era uma simples turma da segunda série do ensino fundamental, era um batalhão, digo do cuidado não de um professor, mas de um tenente – pensando bem, tenente não, era necessário um general, linha dura, fardado, de expressão ranzinza.
O barulho da classe só foi interrompido quando botei os pés dentro da sala de aula, mas não se ilusão foi apenas um breve intervalo, logo as “pestinhas” se atracarão novamente em conversar, jogos de cartas, e a velha guerrinha de papel. Aqui definitivamente não era uma sala de aula, era um campo de batalha, e para vencer aquele enorme contingente de inimigos tive que lançar mão de todos os artifícios de didáticas conhecidos – e porque não, os não conhecidos também.
Estava eu, de pés juntos, armado com granadas e canhões, mas diante de mim, havia um exército ávido por bagunça e toda estirpe de traquinas.
- Ai santo professor, o que fazer? Deus, dê-me forças! (referia-me ao meu professor de didática Carlos Oliveira).
Pode não parecer, mas é assustador a primeira aula, em especial em condições tão adversas quanto as minhas. Porém, não me dei por vencido, corria em minhas veias o sangue forte da juventude, e aquelas “pestinhas” não gozarião a visão de me ver de joelhos ao seus pés. Neste sentido, lancei mão da minha mais poderosa arma, acredito ser uma arma de destruição em massa.

- Era uma vez...

Por um instante fiquei incrédulo diante da potência dessa arma, era uma bomba atômica, a segundos atrás tinha milhares (sim, meus olhos diziam que tinham apenas trinta alunos, mas meus ouvidos, afirmavam categoricamente haver dezenas, centenas, milhares de alunos gritando, pulando...) de crianças gritando, e agora, escutava, salvo a minha voz, um silêncio absurdo, era de fato um silêncio magistral, os deuses haviam atendido as minhas preces. Sim, “preces”, no plural, porque em momentos adversos, o tempo não corre, e conseguimos em segundos rezar vários “Pai nossos”, até pedi perdão por meus pecados consegui. Mas agora a turbulência da guerra havia findado. A paz, e o silêncio haviam brotados em terra infértil. Deste dia em diante, não duvidei mais da força de uma boa historinha.
—        Era uma vez um macaquinho que passou em frente de uma barbearia e viu um homem fazendo a barba.
—        Barbeiro, corte meu rabo!
Risos. E o silêncio se fez, interrompido somente pela minha voz:
            —        Barbeiro, me dê meu rabo, o rabo que Deus me deu...

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