Conhecimento é poder, e em tempos de crise econômica, social e política,
pode ser uma arma na retomado do bem-estar coletivo e pessoal. O
profissional que conclui um curso qualificado de pós-graduação tem, de
modo geral, maiores oportunidades de trabalho. Já os países que investem
em pesquisa e inovação lançam mão de estudos que podem se tornaram
políticas públicas importantes.
A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)
analisou 4.175 programas de mestrados e doutorados em funcionamento há
pelo menos um ano, atribuindo notas de 0 a 7 para cada um. Aqueles que
ganham notas 0, 1 e 2 são descredenciados da Capes – responsável pela
distribuição de bolsas de estudo – e recebem recomendação para fechar;
cursos com nota 3 e 4 são classificados como médios e estão
credenciados; 5 e 6 como muito bons e de excelência nacional, e 7 são os
cursos de excelência, atendendo padrões internacionais de avaliação.
Na Avaliação Quadrienal 2017,
a Capes descredenciou 119 programas, o que corresponde a 2,8% do total
de programas em andamento. Alguns deles em universidades de ponta, como
USP (Universidade de São Paulo), UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro), UNB (Universidade de Brasília), UFMG (Universidade Federal de
Minas Gerais), e UFABC (Universidade Federal do ABC).
Na USP, seis programas avaliados pelas áreas de História, Módulo
Interdisciplinar, Letras, Nutrição e um de Medicina terão de fechar. Na
UFRJ os descredenciados estão nas Ciências Políticas,
Farmácia, Letras e Interdisciplinar. Na UFMG um é da Engenharia e o
outro da Medicina. Os sete cursos da UNB agora inaptos estão nas áreas
da Biodiversidade, Engenharia e Interdisciplinar. A UFABC perdeu o
credenciamento da Capes para um mestrado e um doutorado avaliado pela
área Interdisciplinar e alocados nas Ciências Humanas e Sociais.
Para o presidente da Capes, Abílio Baeta Neves, o fechamento dos
programas em universidades com histórico de bom desempenho reflete, de
modo geral, o envelhecimento dos cursos. “A maioria deles tem problemas
em renovar o corpo docente e as linhas de pesquisa, e ficam antiquados,
perdem a capacidade de se reformular e produzir inovação.”
Do total de cursos da Avaliação Quadrienal, 33% receberam nota 3 e
35% nota 4. O fato de mais da metade dos programas estarem na linha
média de qualificação não significa, no entanto, mau desempenho.
Todos os cursos iniciam com nota 3, e mantém as notas iniciais por
dois ou três anos, tempo em que os programas produzem as qualificações
necessárias para galgar as categorias de desempenho. A região Norte do
país é que a apresenta proporcionalmente o maior número de cursos com
avalição 3 (50%) e 4 (32%). O dado mostra, então, o caráter não
consolidado desses mestrados e doutorados.
Os cursos que recebem as nota 5 atingiram o nível de excelência
nacional correspondem a 14% de todos os programas em andamento. A região
Sudeste é onde os cursos mais antigos do país tiveram início, no final
dos anos de 1960 e começo da década de 1970. É a região com maior
concentração de programas de excelência (16%). Mas é também, por ter os
cursos mais antigos, a região que teve o maior número de cursos com
notas diminuídas (14%) em comparação com a última Avaliação Quadrienal,
feita em 2013.
De 2013 para cá a oferta de mestrados aumentou 17%, o de doutorado
23% e a de mestrado profissional cresceu consideráveis 77%. Isso em todo
o país. Os mestrados profissionais são aqueles projetados a partir das
necessidades de conhecimento do mercado; um fenômeno educacional nascido
na década de 1990. Nos últimos anos, a universidades públicas estão
dando mais atenção aos programas profissionais, e a procura só cresce.
Para Neves, o motivo é a busca por melhores oportunidades de emprego,
acentuada pela alta taxa de desocupação dos últimos anos.
A avaliação da Capes observa nos programas de mestrado e doutorado a
concentração e linhas de pesquisa, os projetos em desenvolvimento por
docentes e alunos, as disciplinas e outras atividades de formação dos
alunos. Com relação ao corpo docente são registradas informações
relativas à formação, prestígio, reconhecimento nacional e
internacional, distribuição das atividades docentes, de pesquisa e
orientação, participação em atividades da graduação. Para os discentes
são registradas informações do número de titulados, qualidade dos
trabalhos de conclusão, tempo mediano de titulação, fluxo de matrículas,
desligamentos, titulações e participação de alunos e egressos na
produção científica do programa. A produção intelectual inclui a
produção veiculada em artigos científicos ou livros e a produção técnica
de docentes com ou sem a participação de alunos e egressos.
Os cursos que recebem as notas 6 e 7 atingiram o nível de excelência
internacional correspondem a 16% de todos os programas em andamento. Os
cursos que recebem a nota 7, a mais alta, atendem a padrões
internacionais de classificação. Para a presidente da Associação
Nacional de Pós-Graduandos, Tamara Naiz, o critério é ruim porque
condecora a produção de conhecimento que não está atenta às necessidades
do Brasil, priorizando, por exemplo, a publicação de artigo em revistas
internacionais de alto impacto. “Muitas vezes esses artigos são
encomendados por agências internacionais que não estão interessadas em
questões relevantes para nós. Por que não levamos em conta a produção de
conhecimento para diminuir a desigualdade social como critério de
avaliação, por exemplo, e o impacto da pesquisa naquela comunidade onde
está a instituição de ensino?”
A produção intelectual cresceu com intensidade em comparação com a
avaliação de 2013: 89% no número de artigos em periódicos, 80% na
produção de livros e capítulos de livros e 82% na produção técnica.
Tamara reforça ainda que o material produzido pela Capes mostra o
crescimento qualificada da oferta de pós-graduação no país, mas é
subutilizado, porque ele também identifica assimetrias entre os estados e
regiões, mas não é usado para corrigir essas assimetrias. “Usamos os
mesmos critérios para regiões com questões sociais e econômicas
completamente distintas. A avaliação da Capes serve para orientar os
financiamentos públicos, e existem desigualdades profundas entre os
estados. Esses dados devem servir para reorientar as políticas, do
contrário elas irão produzir mais desigualdade.”
Fonte: http://www.cartaeducacao.com.br/sem-categoria/capes-descredencia-cursos-em-universidades-de-ponta/
Acesso: 16 jan. 2018.
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