DEBATE: ENSINO MÉDIO FLEXÍVEL VAI AJUDAR NA ESCOLHA PROFISSIONAL?



DEBATE: ENSINO MÉDIO FLEXÍVEL VAI AJUDAR NA ESCOLHA PROFISSIONAL?
Diretores de colégios discutem prós e contras do modelo de itinerários formativos e do aconselhamento vocacional
As novas regras do ensino médio devem aumentar a importância do aconselhamento vocacional nas escolas. Agora, além de orientar para a escolha da profissão, a tutoria deve ajudar o estudante a escolher entre cinco áreas de interesse: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas, ou ensino técnico.
O novo modelo divide opiniões entre educadores. Para alguns, a divisão do ensino entre itinerários formativos não garante a motivação do aluno. Outros defendem a flexibilização do currículo como a melhor solução para o abandono escolar, que tem no ensino médio a maior proporção entre todas as etapas da educação básica. Tampouco há consenso sobre o formato ideal que a tutoria deve assumir após a reforma.

Para ajudar estudantes, pais, professores, escolas e a sociedade em geral a se informar e tirar suas dúvidas sobre a reforma do ensino médio, o Estado iniciou no mês passado uma cobertura especial sobre a reforma. A reportagem tem visitado escolas na cidade de São Paulo com diferentes perfis para colher dúvidas sobre as mudanças, e uma série de reportagens tem sido publicada sobre o tema. Os leitores também poderão enviar seus questionamentos por meio do e-mail ensinomedio.estadao@gmail.com.
Abaixo, as posições de dois especialistas sobre o assunto.
O ensino médio flexível, com ajuda do aconselhamento vocacional, é a melhor forma de direcionar a escolha profissional?

Renato Júdice, diretor do Colégio Rio Branco              

Sim. O aluno tem um ganho de flexibilidade na sua formação, e não necessariamente define destinos. Quando se ganha a possibilidade de ter um currículo mais flexível, o que ocorre na prática é incorporar outras formações à trajetória desse aluno - ainda que ele tenha focos em alguns momentos, o que é natural até pela própria motivação do estudante. Vejo como muito positiva essa reforma para qual estamos caminhando. 
O aconselhamento nunca vem isolado, não é apenas uma mostra de profissões. A escola o faz com base no conhecimento do ser humano, nos seus potenciais e fraquezas, e nas suas oportunidades.
No Colégio Rio Branco, fazemos um trabalho de longo prazo que denominamos de ‘mentoria’. Esse trabalho envolve, entre outras coisas, o aconselhamento. Não é apenas uma conversa ou um ‘laudo pontual’ que sentencia ‘qual carreira você deve fazer’. É um trabalho de descoberta do perfil desse aluno para que ele possa amadurecer, ao longo de vários anos que ele passa conosco. Isso acaba culminando com uma decisão mais sólida.
Defendo que o aconselhamento vocacional tem de estar sempre presente, ele é uma das responsabilidades da escola. Nós, educadores, não estamos ali apenas para transmitir conteúdo, estamos formando cidadãos. Ajudá-lo nessa escolha é, muitas vezes, a melhor forma que a escola tem de deixar o aluno seguir para a vida adulta de forma bastante sólida.

Luciana Fevorini, diretora do colégio Equipe

Não. A princípio, não é possível generalizar, no sentido de isso ser bom ou ruim para todos os jovens. Há uma previsão de que o aluno estará sempre mais motivado para determinada área. Não é bem assim.
O problema da motivação envolve muitas outras questões: o professor, a metodologia, a sistemática de avaliação, etc. Mesmo em um curso na faculdade que o próprio aluno escolheu, sempre há alguma disciplina com a qual se identifica mais e outras com que se identifica menos. Eu encontro muitos jovens que gostam de várias áreas do conhecimento diferentes. A reforma traz um problema para eles, que é optar antes de terminar o ensino médio.
O jovem precisa desenvolver trabalhos dentro da sua área de interesse. Mais do que o aconselhamento vocacional, o que traz mais resultados é que o estudante se aprofunde na prática e no pensamento intelectual sobre a carreira.
A escola pode criar uma situação em que o estudante faça pesquisa e crie conhecimento dentro da sua área de interesse. Assim, se aprofundando em algumas vertentes conceituais, e se relacionando de alguma maneira com a prática, ele pode ver se realmente se interessa pelo assunto.

No Colégio Equipe, por exemplo, os alunos do 3º ano do ensino médio fazem trabalhos de monografia, que são pesquisas individuais e autorais. Muitos baseiam-se nisso para fazer escolhas profissionais. Também temos o aconselhamento em que eles ouvem profissionais das áreas, vão até as universidades e até os locais de trabalho, para ver como as coisas acontecem na prática. Mas, de todas essas experiências que fazemos aqui, a mais significativa é aquela em que há desenvolvimento intelectual e da realidade.

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