Habermas e o Agir Educativo



Antes de entrarmos no conceito de Agir Educativo, necessitamos entender o Agir Comunicativo, e para tanto, necessitamos também entender como Habermas vai classificar os diferentes tipos de agir do homem.


Habermas apoiado na tipologia da ação social weberiana vai introduzir a categoria do agir comunicativo. Veja no quadro abaixo como Habermas faz essa distinção:



Faremos agora uma breve distinção de cada tipo de Agir:


a) Agir Instrumental: esse tipo de agir é o agir pautado pelo êxito, bem como, se dá na dimensão não social.


“(…) ação instrumental, muito freqüente nas escolas, compreende as ações orientadas pelo sucesso na aprendizagem instrumental, ou seja, as ações decorrentes, por exemplo, do método de ensino de alfabetização (leitura e escrita, regras ortográficas, hábitos, comportamentos etc). Nesse grupo incluem-se as ações do professor, relação com o aluno. Isso ocorre quando o professor pretende que o aluno adquira determinada habilidade ou conhecimento e busca os meios adequados para obtenção do resultado planejado. É a ação instrumental por excelência. Se o objetivo, por exemplo, é ensinar a criança a ler num prazo de trinta dias, então o professor buscará os materiais didáticos necessários para atingir o que planejou antes mesmo de realizar as atividades específicas da alfabetização. (LONGHI, 2008, p. 160.)”


b) Agir Estratégico: esse tipo de agir é o agir pautado pelo êxito, mas nesse caso, se coloca na dimensão social.


“(…). Ambos os grupos de ações [instrumental e estratégico] orientam-se pelo produto. Porém, no caso das ações do grupo ação estratégica, o resultado é produzido na própria interação. Nesse tipo de ação, o agente influencia o outro participante durante o processo de interação, convertendo-o em meio para a obtenção da finalidade que busca atingir. Essa forma específica de instrumentalização, realizada pela ação estratégica, consiste em influenciar as decisões ou comportamentos do outro, de forma que, inconscientemente, contribua para os fins que pretende o primeiro. (LONGHI, 2008, p. 160-161.)”

c) Agir Comunicativo: o agir comunicativo, diferentemente do primeiro, esta pautado no processo, o que esta em jogo não é tanto o resultado obtido, o que esta em jogo é o processo, ou seja, como se atingiu esse denominador comum, por extensão, deve-se atingir esse denominador comum pela via do discurso, da igualdade e do entendimento.


“O conceito de agir comunicativo refere-se à interação entre pelo menos dois sujeitos capazes de linguagem e de ação e que, por meios verbais ou extraverbais, estabeleçam entre si uma relação específica. Nesse tipo de agir, os atores buscam entrar em acordo para poderem coordenar seus planos de ação. A idéia central do conceito de agir comunicativo refere-se ao médium lingüístico, ou seja, à posição lingüística a partir da qual os participantes do diálogo erguem pretensões de validade. Nela dá-se a possibilidade de os sujeitos, orientados pelo entendimento, obterem o acordo sobre o que está tematizado, gerando o novo consenso. Essa situação, na qual os atores tematizam suas pretensões de validade, é o espaço apropriado para produzir o entendimento lingüístico. O conceito de entendimento é introduzido como mecanismo coordenador da ação e como meio que reflete as interações entre sujeito-sujeito, (…). (LONGHI, 2008, p. 38-39.)”


Destarte, ocorre agir comunicativo quando:


“(…): não tenha ocorrido nenhum tipo de coação durante o processo comunicativo; a tomada de decisão apoiou-se em argumentos racionais; e as pretensões de validade do discurso foram cumpridas, em vez de, unicamente, apoiar as decisões em votações, cujo princípio primeiro é o número de votos [maioria]. (LONGHI, 2008, p. 168.)”

d) Agir Educacional: o agir educacional é uma derivação do agir comunicativo, na medida mesmo em que se entende que há uma relação assimétrica entre o adulto e a criança, não é possível entendê-los no mesmo nível de racionalidade, o adulto esta em um estágio mais avançado do que a criança. Mas entender que há uma relação assimétrica entre o adulto e a criança “não significa que tal relação seja objetivada, ou seja, o professor, mantendo a postura na qual o aluno é sujeito manipulável segundo os interesses e os estímulos do primeiro. (LONGHI, 2008, p. 148.)”. Sendo assim é importante termos em mente que reconhecer a assimetria entre o professor e o aluno não é excluir o aluno do agir comunicativo, mas é reconhecer certos limites neste agir, destarte, o esforço mesmo do professor é incutir no aluno essa capacidade, “(…). Quando o professor propõe a ação educativa, busca o desenvolvimento da competência comunicativa no aluno, qualquer que seja o estágio evolutivo em que se encontre. (LONGHI, 2008, p. 148.)”


“(…). Consideramos ação educativa aquela ação intencional, cuja finalidade, imediata ou futura, é a formação do aluno, segundo a teoria do agir comunicativo e cujos agentes são os adultos profissionais integrantes da comunidade escolar. A interação entre sujeitos competentes lingüisticamente, por definição simétrica, não possui caráter ou finalidade educativa. A interação assimétrica entre professor e aluno gera ações educativa por causa da natureza formativa da educação. Como o referencial das ações educativas é o agir comunicativo, e este somente ocorre de forma limitada, então consideramos que tais dinâmicas são ações educativas, ou seja estão intencionalmente orientadas para o desenvolvimento da competência interativa e comunicativa do aluno. Essa orientação permitirá ao aluno executar atos com características típicas do agir comunicativo. As ações educativas produzidas pelos alunos são progressivamente comunicativas, em função do grau crescente do seu nível de desenvolvimento, observado na capacidade de seguir as regras do discurso. “LONGHI, 2008, p. 158.)”

Dito isso, finaliza-se essa parte deixando claro a concepção de Escola presente em Habermas, a escola deve dispor ao aluno as ferramentas necessárias para este assumir as condições de possibilidade para orientar-se na sociedade segundo o Agir Comunicativo.

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