De quantas chuvas me enxuguei! Quantas vezes, molhado até os ossos, sequei minhas roupas no corpo, ao vento ou ao sol! Quantos banhos tomados a todo momento, no verão, no rio, no inverno, nas fontes! Trepava nas árvores; metia-me nas cavernas; apanhava rãs na corrida, caranguejos em suas tocas, arriscando-me a encontrar uma horrível salamandra; depois, no mesmo lugar, eu assava minha caça. Há, do homem ao animal, em tudo o que existe, simpatias e ódios secretos de que a civilização rouba o sentimento. Eu amava minhas vacas, mas com uma afeição desigual; tinha preferência por uma galinha, por uma árvore, por um rochedo; disseram-me que o lagarto é amigo do homem e eu o acreditava sinceramente. Mas sempre fiz rude guerra às cobras, aos sapos e às lagartas. O que eles me fizeram? Nenhuma ofensa. Não sei; mas a experiência dos homens me fez detestá-Ios sempre mais.
Fonte: PROUDHON, P.- J. (Pierre Joseph); GUERIN, Daniel. A propriedade e um roubo: e outros escritos anarquistas. Porto Alegre : LEPM, 1997. 172p. (L&PM pocket, v. 84)
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